Tudo mudou, mas nada é diferente!

Jean-Luc tinha abandonado há muito tempo qualquer prática religiosa quando conheceu aquela que viria ser a sua futura mulher. Foi suficiente um livro – Caminho de S. Josemaria – e uma evidência – Deus ama-me e dá-me a sua graça – para que a sua vida mudasse. Atualmente sendo pai de uma família numerosa e técnico de radiologia, conta-nos o que para ele significa ser cristão. Radiografia de uma vida.

«Nunca pensaste ler o Evangelho?». Foi certamente com este conselho daquele que viria a ser o meu futuro cunhado que tudo começou…. Estávamos em 1980. Jovem técnico de radiologia, eu tinha acabado de conhecer a minha futura mulher e só desejava uma coisa: viver tranquilamente e divertir-me. Havia nesse momento pouco lugar na minha vida para as questões existenciais! No entanto, seguramente levado pelo desejo de fazer do meu futuro cunhado um aliado, decidi seguir o seu conselho e comecei a ler todos os dias o Evangelho para além de um outro livro que ele me tinha oferecido, Caminho, de S. Josemaria, do qual eu nunca tinha ouvido falar. Uma prática que, com o tempo, iria progressivamente mudar a minha vida.

Tomei subitamente consciência do amor do Senhor

Deste modo, dois anos mais tarde, ao rezar numa capela, tomei subitamente consciência do amor do Senhor por mim. Uma evidência tão forte que transformou a minha forma de olhar para o futuro: eu podia doravante contar com a graça de Deus! Eu, que tinha um medo de morte do compromisso, pedi a minha namorada em casamento. Ultrapassada esta nova etapa, senti a necessidade se aprofundar a minha formação cristã. Entrei em contacto com um sacerdote do Opus Dei e comecei a assistir às recoleções. Foi nesta época, durante um retiro, que descobri a minha vocação ao Opus Dei. A partir desse momento, posso dizer que tudo mudou na minha vida apesar de nada estar diferente. Eu era o mesmo marido e o mesmo profissional que antes, mas sabia, no entanto, que Deus me esperava ali, nessas circunstâncias: a minha vida de família – teríamos seis filhos – e a minha vida profissional que eu considerava como uma ocasião de testemunhar a minha fé.

O meu trabalho, uma ocasião de servir

Desde esse momento e ainda agora, começo sempre o meu dia de trabalho, aproveitando o momento em que visto a bata e as calças brancas para rezar: ofereço a Nosso Senhor o dia que começa e todas as pessoas que vou encontrar. Depois, limpo toda zona de trabalho e instrumentos de alta tecnologia que utilizamos diariamente. Finalmente, começo a receber os pacientes. Apesar de fazer quase sempre as mesmas radiografias (pulmões, cotovelo, tornozelo, etc.), tenho muito presente que cada paciente é único. Aliás, é a ideia principal que procuro transmitir aos estudantes de estágio no meu serviço: temos de fazer um trabalho técnico, mas sem nunca esquecer que temos pessoas diante de nós. Pessoas que, muitas vezes, chegam cansadas ou stressadas e que como tal merecem toda a nossa atenção e simpatia.

Mais do que pacientes, amigos

Com alguns pacientes, acontece-me estabelecer verdadeiras relações de amizade no decorrer das consultas. Quando isso acontece, costumo mostrar-lhes uma imagem com a oração de S. Josemaria. Por vezes surpreendo-me ao ver os numerosos frutos que resultam deste simples gesto. Lembro-me, por exemplo de um octogenário de origem judia que me veio ver por causa de umas costelas partidas e com quem eu conversava muito, e acabei por lhe mostrar a pagela de S. Josemaria. Vendo-a, disse-me que, tal como S. Josemaria, a sua mulher recentemente falecida, era de Barbastro, que tinha sido o desgosto de a ter perdido que o tinha enfraquecido ao ponto de cair pelas escadas abaixo e partir as costelas. Ouvi-o com atenção e prometi-lhe rezar por ele. Alguns meses mais tarde, veio visitar-me para me dizer que se ia batizar e que gostava que eu fosse o seu padrinho! Isso foi para os dois uma grande alegria!

Também aí Deus me espera

São estes encontros e os momentos de graça que por vezes surgem que me fazem enfrentar cada dia de trabalho com a certeza de que também aí Deus me espera. Não importa que as pessoas que se cruzam no meu caminho estejam longe da fé, procuro amá-las como o Senhor faria. Rezo todos os dias, sobretudo durante a ação de graças da Missa, pela minha família, mas também pelos meus pacientes, colegas e todas as pessoas que vou encontrar. Tenho a sorte de ter uma capela no hospital onde posso recolher-me durante a minha pausa para almoço e aí por vezes combino encontrar-me com um ou outro dos meus colegas para rezar uma dezena do terço. Foi isso que mudou na minha vida: não o lugar que ocupo, mas o olhar que tenho sobre o mundo e as pessoas que me rodeiam.