Os Novíssimos

Chamam-se Novíssimos às coisas que acontecerão ao homem no fim da sua vida, à morte, ao juízo, ao destino eterno: o Céu ou o inferno. A Igreja convida-nos a refletir sobre estes acontecimentos durante o mês de novembro.

S. Josemaria fala da passagem do tempo

Tenho de falar-vos do tempo, deste tempo que vai passando. (...) Para nós, cristãos, a fugacidade do caminho terreno deve incitar-nos a aproveitar melhor o tempo, não a temer Nosso Senhor, e muito menos a olhar a morte como um final desastroso.
(...) Ao pensar nesta realidade, compreendo perfeitamente aquela exclamação que S. Paulo escreve aos de Corinto: “tempus breve est!”, que breve é a nossa passagem pela terra! Para um cristão coerente, estas palavras soam, no mais íntimo do seu coração, como uma censura à falta de generosidade e como um convite constante a ser leal. Realmente é curto o nosso tempo para amar, para dar, para desagravar. Não é justo, portanto, que o malbaratemos, nem que atiremos irresponsavelmente este tesouro pela janela fora. Não podemos desperdiçar esta etapa do mundo que Deus confia a cada um de nós.

Amigos de Deus, 39

Inevitável

A morte chegará inexoravelmente. Portanto, que oca vaidade a de centrar a existência nesta vida! Repara como sofrem tantas e tantos: uns, porque ela se acaba, custa-lhes deixá-la; outros, porque dura demais, aborrece-os…
Nunca se pode entender a nossa passagem pela Terra como um fim. É preciso sair dessa lógica errada, e firmar-se na outra, na eterna. E para isso é necessária uma mudança total: esvaziar-nos de nós mesmos, dos motivos egocêntricos, que são caducos, para renascermos em Cristo, que é eterno.

Sulco, 879

O tempo é o nosso tesouro, o "dinheiro" para comprarmos a eternidade.

Sulco, 882

Sem medo

Não faças da morte uma tragédia, porque o não é! Só filhos sem coração não se entusiasmam com o encontro com os pais!

Sulco, 885

Quando pensares na morte, não tenhas medo, apesar dos teus pecados. Porque Ele já sabe que O amas… e de que massa és feito.
Se tu O procurares, Ele acolher-te-á como o pai ao filho pródigo. Mas tens de O procurar!

Sulco, 880

Morrer não, viver!

A morte, meus filhos, não é uma passagem desagradável. A morte é uma porta que se nos abre para o Amor, o Amor com letra maiúscula, para a felicidade, para o descanso, para a alegria. (...) Não é o final, é o princípio. Para um cristão morrer não é morrer; é viver. Viver com maiúscula. Em resumo, não tenham medo da morte. Enfrentem-se com a morte. Face a face. Contem com ela: terá que vir… Por que razão vais ter medo? Esconder a cabeça debaixo das asas com medo, com pânico, por quê? Senhor, a morte é vida. Senhor, a morte para um cristão é o descanso, e é o Amor, e não tenho outra volta a dar-lhe.

(Do livro San Josemaría y los enfermos, compilado por Miguel Ángel Monge, Madrid, Palabra, 2004)

O verdadeiro cristão está sempre preparado para comparecer diante de Deus. Porque, se luta por viver como homem de Cristo, está sempre disposto a cumprir o seu dever.

Sulco, 875

Diante da morte, sereno! Quero-te assim. Não com o estoicismo frio do pagão, mas com o fervor do filho de Deus, que sabe que a vida muda, mas não acaba. – Morrer?… – Viver!

Sulco, 876

A coroa que vale

Doutor em Direito e em Filosofia, preparava um concurso para catedrático na Universidade de Madrid. Duas carreiras brilhantes, realizadas com brilho.
Recebi um aviso seu: estava doente, e desejava que eu fosse visitá-lo. Cheguei à pensão onde estava hospedado. – “Padre, estou a morrer”, foi a sua saudação. Animei-o com carinho. Quis fazer confissão geral. Faleceu naquela mesma noite.
Um arquiteto e um médico ajudaram-me a amortalhá-lo. E, à vista daquele corpo jovem, que rapidamente começou a decompor-se…, concordámos os três que as duas carreiras universitárias não valiam nada, comparadas com a carreira definitiva que, como bom cristão, acabava de coroar.

Sulco, 877

Tudo tem remédio, menos a morte… E a morte remedeia tudo.

Sulco, 878