O princípio do meu ‘caso’ de Amor com Deus

Collins encontrou Deus num Centro do Opus Dei em Enugu, Nigéria.

Collins

Todas as experiências da minha vida se reuniram quando me sentei naquela Capela a ouvir um padre. Foi um fim de tarde de recoleção, que decorre uma vez por mês em Ugwuoma, um Centro do Opus Dei em Enugu.

O sacerdote citava Caminho: "Um segredo, um segredo em voz alta: estas crises mundiais são crises de santos. Deus quer um punhado de homens ‘Seus’ em cada atividade humana. E depois... pax Christi in regno Christi - a paz de Cristo no reino de Cristo". Enquanto ouvia, surgia no fundo do meu coração a ideia de que, a partir dali, nada voltaria a ser o mesmo. Todos os contactos e relacionamentos ao longo da minha vida, relativamente curta, pareciam todos adquirir um novo sentido. Fiquei tão recolhido, que até abstraí dos outros sentados a meu lado, na Capela.

O padre, sentado a uma pequena mesa, de frente para nós, continuava a falar, e o que ele dizia enchia-me o coração.

"Ou encontramos Deus escondido nas pequenas coisas de cada dia, nas coisas mais materiais, ou nunca O encontraremos".

Quando a recoleção acabou, saí com os outros da Capela. Já estava escuro lá fora, e a lembrança do "que vou eu jantar" veio-me à ideia.

"Não nos encontrámos já?", perguntou alguém. Era alto e quase calvo.

"Não me parece ", respondi.

Apresentou-se.

"Prazer em conhecê-lo", disse eu.

Demos um aperto de mãos.

"É a primeira vez que vens cá?", perguntou sorrindo.

"Não, não propriamente… Mas é como se fosse", continuei, depois de uma breve pausa.

Ficou intrigado.

"Bem, senta-te aqui, vamos conversar um pouco ", disse ele.

E abriu-me o caminho para uma sala ali ao lado, com sofás verde-esmeralda. Na mesa do meio, uma taça grande cheia de pequenos cristais e seixos dava um certo charme e elegância à sala.

Quando nos sentámos, comecei a explicar.

"Eu já fui a recoleções, no passado, algumas quatro ou cinco vezes. Cheguei até a ir ao Centro em Abuja, mas acho que não estava preparado, e não aproveitei muito… Mas hoje foi diferente". Fiz uma pausa, procurando palavras para me exprimir.

"Como conheceste o Opus Dei?", perguntou.

" Quando vivia em Abuja, um amigo apresentou-me o Professor Picardo, que me deu o endereço do Centro. Fui lá e depois, quando vim para Enugu, ele sugeriu-me Ugwuoma".

"Interessante, e o que fazes na vida ?".

"Estudo Direito na ESUT. Estou no 3º ano. A minha primeira opção foi Administração de Empresas. Mas sempre gostei de Direito, e voltei a estudar".

Era fácil conversar com ele, e rapidamente demos connosco a falar como se fossemos velhos amigos. E acabei por lhe contar sobre o meu falecido pai:

"O meu pai era tudo para mim", comecei ". Quando era criança, ele levava-me todos os dias para a escola, pela mão, cozinhava, cuidava de nós e era praticamente a ama da casa sempre que a mãe não estava. Quando o dinheiro era pouco e a comida ainda menos, comíamos com alegria porque ele nos fazia rir com muitas histórias engraçadas. Em adolescente, lembro-me dos passeios à noite com o meu pai, em que ele me contava muitas histórias da sua vida, a sua juventude e os seus sonhos. Éramos amigos e eu aguardava sempre pelas nossas conversas. Ele chegou a pedir-me conselhos nos negócios e eu ajudava-o a responder a cartas de negócios e a fazer telefonemas.

Não me apercebi de que o meu pai estava muito doente, de diabetes, até quase ao momento da sua morte. Escondeu a sua dor de mim e dos meus irmãos. Embora estivesse com grandes dores, nunca nos quis mostrar isso. Quando a doença o deixou mais em baixo, ele concentrava a sua energia em motivar-nos, inspirando-nos para alcançarmos o melhor.

Morreu no dia 13 de setembro de 2009, no hospital Park-lane. Quando voltei para o ver e toquei no seu corpo, fiquei chocado por estar tão duro como a madeira… não conseguia enfrentar aquele horror. A morte assumiu então um significado totalmente novo. Horrorizava-me que eu pudesse morrer. A minha vida ficou parada e sem rumo.

Lembro-me de sair a correr para comprar uma Bíblia com o último dinheiro que tinha, e entrar numa Igreja, Sta. Brígida, para pedir a Deus que me falasse e dissesse por que razão levara o meu pai. Ajoelhado, perguntei a Deus por que é que tinha de me purificar assim. Não sabia como proceder. Não sabia que fazer. Senti que precisava de um guia".

O vento fresco que saía das aberturas do ar-condicionado era tudo o que se ouvia na sala. Fiquei sem palavras.

Depois de algum silêncio, ele falou-me sobre o facto de sermos filhos de Deus: "Ter consciência da nossa filiação divina", disse-me, "é o fundamento do espírito do Opus Dei".

E perguntou-me se eu não gostaria de ter uma vida de relacionamento íntimo com Deus. Eu iluminei-me como uma árvore de Natal, e respondi-lhe que estava a ver que ele nunca mais me perguntava isso.

Antes de sair do Centro naquela noite, ele explicou-me como fazer oração mental e deu-me o livro "Falar com Deus" de Francisco Fernandez Carvajal.

Poucas semanas depois, quando nos encontrámos e ele me perguntou como iam as coisas, eu estava muito animado:

"Aprender a fazer oração mental e a viver a filiação divina é como nascer de novo outra vez", respondi-lhe. O olhar intrigado no seu rosto fez-me rir. Expliquei-lhe que me parecia que nasci de novo naquele dia, depois da morte do meu pai, mas não consegui ir mais longe porque não tinha ninguém para me orientar. "Quando me ensinaste a fazer oração mental, nasci de novo, uma segunda vez. Agora, sou uma pessoa diferente ", afirmei. Ele riu-se quando lhe relatei as minhas experiências das últimas semanas."Um dia, o tema da oração mental impressionou-me tanto que eu tive de ir pedir desculpa a alguém que me tinha magoado. "Como assim?", riu-se. "Sim", respondi: "o tema foi a mortificação, e li que era mais fácil ficar sem cama ou dar uns trocos a um mendigo do que humilhar-se e pedir desculpa a quem nos ofendeu. Então acabei a oração, determinado a fazer exatamente isso. Foi bastante difícil, mas decidi-me, e Deus fez tudo o resto. A pessoa em questão ficou tão surpreendida que quase desmaiou. Ele sabia que me tinha ofendido, e a última coisa que esperava era um pedido de desculpas vindo de mim. Assim, começou também ele a pedir-me desculpa e agora somos outra vez amigos.

"Sorriu".

“Mas há mais ", disse eu. "Noutra ocasião, estava a conduzir, de regresso a casa, quando veio um carro que quase me bateu. Desviei-me para o evitar e fiquei chocado quando ele começou a insultar-me. Instintivamente, insultei-o também. Naquele instante, senti uma forte repreensão algures na minha consciência. Era como se Jesus Cristo estivesse ali sentado a meu lado, no carro, falando pela minha consciência, dizendo-me que não perdesse aquela oportunidade de partilhar a Sua Cruz. Senti-me envergonhado e acabei com os meus insultos". " Embora eu já fosse à Missa antes", acrescentei com um grande sorriso," agora vou com entusiasmo e amor, ajudado pela oração mental. Eu tinha fome de um ‘caso de amor’ com Deus. Andava à procura disso, e agradeço a Deus que ele já tenha começado. "