Meditações: 29 de junho, São Pedro e São Paulo

Reflexão para meditar no dia 29 de junho, Solenidade de S. Pedro e S. Paulo, Apóstolos. Os temas propostos são: uma Igreja libertada pelo encontro com Cristo; Pedro: entregar a debilidade a Deus; Paulo: um coração sem barreiras.


«ESTES são os Apóstolos, que durante a sua vida plantaram a Igreja com o seu sangue. Beberam o cálice do Senhor e tornaram-se amigos de Deus»[1]. Os apóstolos Pedro e Paulo são considerados como as primeiras colunas do cristianismo. S. Pedro é a pedra sobre a qual Jesus edificou a sua Igreja e S. Paulo, com as suas viagens e os seus escritos, é o apóstolo da Igreja universal. Os dois confirmaram a unidade e a universalidade do novo povo de Deus com o testemunho do martírio.

A vida de ambos não esteve marcada principalmente pelas suas qualidades, mas pelo encontro pessoal que tiveram com Jesus: foi Ele quem os curou e converteu em apóstolos para os outros. Pedro foi libertado do seu medo e da sua insegurança. Apesar de ser forte e impetuoso, experimentou o sabor amargo da derrota quando, depois de toda uma noite de trabalho, não tinha pescado nada. Perante as redes vazias, sentiu a tentação do desânimo, de abandonar tudo. Mas ao confiar nas palavras de Jesus – «Faz-te ao largo; e vós, lançai as redes para a pesca» (Lc 5, 4) –, deu-se conta de que, pelo contrário, devia acolher tudo: tinha a certeza que, estando na mesma barca com Cristo, não tinha nada a temer.

Paulo, pelo contrário, foi libertado «do zelo religioso que o tinha tornado num feroz defensor das tradições que tinha recebido»[2] e que não tinham reconhecido Jesus como o Messias esperado. O seu cumprimento rigoroso da lei sem essa abertura a Cristo tinha-o fechado ao amor divino. Mas depois da sua queda a caminho de Damasco lançou-se a uma pregação própria de quem «saboreou intensamente a alegria de ser de Deus»[3]. A sua vida que talvez só girasse à volta de uns preceitos a cumprir, fundamenta-se depois naquele encontro pessoal com Cristo. «Pedro e Paulo dão-nos a imagem de uma Igreja confiada às nossas mãos, mas conduzida pelo Senhor com fidelidade e ternura (...); de uma Igreja débil, mas forte pela presença de Deus; a imagem de uma Igreja libertada que pode oferecer ao mundo a libertação que não pode dar a si mesmo»[4].


JESUS, reunindo os seus discípulos, lançou-lhes uma pergunta: «Quem dizem os homens que é o Filho do Homem?» (Mt 16, 13). Começaram a dizer alguns dos nomes que se ouviam pela cidade: João Batista, Elias, Jeremias, algum dos profetas… Mas Jesus quis depois que cada um ensaiasse uma resposta mais pessoal: «E vós, quem dizeis que Eu sou?» (Mt 16, 15). Desta vez ninguém se atrevia a dizer nada. Só o fez Simão Pedro, que tomando a palavra respondeu: «Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo» (Mt 16, 16).

Perante estas palavras, Jesus diz a Pedro que será a Pedra sobre a qual Ele edificará a sua Igreja. Mas também acrescenta que a sua fortaleza não dependerá das suas qualidades – «não foi a carne nem o sangue que to revelou» (Mt 16, 17) –, mas do poder de Deus Pai que está no céu. De facto, pouco depois de indicar Pedro como Pedra, vemo-lo repreendido pelo Senhor depois do anúncio da sua Paixão: «Tu és para mim um estorvo, porque os teus pensamentos não são os de Deus, mas os dos homens» (Mt 16, 23). Esta tensão entre o dom que vem de Deus e a capacidade humana é aquilo que marca a vida de S. Pedro, da Igreja e de cada um de nós. Por um lado, a luz e a força, que vem do alto; por outro, a debilidade humana, que só a ação divina pode transformar quando encontra um coração humilde.

«A Igreja não é uma comunidade de seres perfeitos, mas de pecadores que se devem reconhecer necessitados do amor de Deus, necessitados de ser purificados através da Cruz de Jesus Cristo»[5]. Pedro não mudou de um dia para o outro. Na sua vida continuaria a experimentar os dons de Deus e as suas próprias debilidades. Assim foi a Pedra da Igreja: experimentou continuamente os seus defeitos, mas soube amparar-se no amor de Cristo.


S. PAULO é considerado o apóstolo das nações; ou seja, de todos aqueles que não pertenciam ao povo judeu. Pensando bem, tem inclusive o seu paradoxo. Ele, que tanto se esforçou em perseguir os cristãos porque não eram suficientemente cumpridores do judaísmo como ele era, depois destacou-se precisamente por anunciar a salvação de Deus às nações da terra. «Fiz-me tudo para todos, para salvar alguns a qualquer custo» (1 Cor 9, 22), escreveu aos de Corinto. Os planos de Deus são sempre muito maiores do que aquilo que podemos imaginar.

Não existe nenhuma barreira terrena que separe um cristão dos seus irmãos. Tudo o que afastava S. Paulo dos outros homens desapareceu ao encontrar-se com o Senhor. «Esse acontecimento alargou o seu coração, abriu-o a todos. (...) Tornou-se capaz de estabelecer um diálogo amplo com todos»[6]. Como dizia S. Josemaria: «O coração humano tem um coeficiente de dilatação enorme. Quando ama, dilata-se num crescendo de carinho que supera todas as barreiras. Se amas o Senhor, não haverá criatura que não encontre lugar no teu coração»[7]. Essa dilatação do coração foi a que sucedeu a S. Paulo ao encontrar-se pessoalmente com Cristo.

Maria, como Mãe da Igreja, procura manter unidos todos os filhos. «É difícil ter autêntica devoção à Virgem e não se sentir mais unidos aos outros membros do Corpo Místico, também mais unidos à sua cabeça visível, o Papa»[8]. Como a Pedro, ela nos ajudará a não perder a esperança perante os nossos defeitos e a viver sustentados na pedra que é Deus. E, como a Paulo, o nosso coração dilatar-se-á para descobrirmos a fraternidade que nos une a toda a humanidade.


[1] Missal Romano, Antífona de entrada, solenidade de S. Pedro e S. Paulo.

[2] Francisco, Homilia, 29/06/2021.

[3] S. Josemaria, Notas de uma reunião familiar, 25/08/1968.

[4] Francisco, Homilia, 29/06/2021.

[5] Bento XVI, Homilia, 29/06/2012.

[6] Bento XVI, Audiência, 03/09/2008.

[7] S. Josemaria, Via Sacra, VIII estação, n. 5.

[8] S. Josemaria, Cristo que passa, n. 139.