Meditação do Prelado (3 de abril de 2020) - Unidos na Última Ceia

Primeira reflexão de Mons. Fernando Ocáriz, prelado do Opus Dei no contexto da preparação para a Semana Santa. Está prevista a publicação de mais três meditações do prelado traduzidas em língua portuguesa ao longo dos próximos dias.

Estamos já muito perto da Semana Santa, e torna-se-nos mais espontâneo meditar na Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor: momentos centrais da História, que iluminam a nossa fé e as nossas vidas.

A partir de Roma, é fácil percorrer com a oração todos os países, cada centro, cada uma das vossas casas, sobretudo naquelas onde agora é preciso viver um período de confinamento mais rigoroso, devido à pandemia do coronavírus.

Esse pensamento e esta oração vão especialmente para todos os doentes e para quem deles cuida. Nestes momentos, podemos acompanhar o Senhor na Paixão, estando numa cama de hospital ou nas nossas casas. A cruz é um mistério, mas se, como Cristo e com Cristo, a abraçamos, é luz e força para cada um e para comunicá-las a outros.

Todos esperamos e rezamos com paciência para que esta pandemia acabe. Nestas circunstâncias, ajuda-nos especialmente atualizar a nossa fé no amor de Deus por nós e corresponder a esse amor, também com o serviço aos outros.

Como recordava numa carta, não há muito tempo, a comunhão dos santos leva-nos a fazer nosso tudo o que afeta os outros, porque, na verdade, podemos repetir, com aquelas palavras de S. Paulo, que “se um membro sofre, todos sofrem com ele ”(1 Cor 12, 26). Senhor, Mãe nossa, ajuda-nos a que seja assim.

No domingo passado, o Papa dizia que “à pandemia do vírus, queremos responder com a universalidade da oração, da compaixão, da ternura. Permaneçamos unidos. Façamos sentir a nossa proximidade às pessoas mais sós e mais provadas”. Rezemos pelos afetados pelo vírus. Rezemos também para que as consequências sociais e económicas desta crise sejam as mais leves possíveis: pensemos em tantas famílias preocupadas com o seu futuro, na inquietação de tantos trabalhadores, nos receios de tantos empresários. Serão necessárias a unidade, a esperança, a generosidade e o sacrifício.

Na Última Ceia, o Senhor disse-nos: "No mundo tereis sofrimentos, mas confiai: Eu venci o mundo". Com esta confiança preparamo-nos para o Tríduo Pascal, que este ano, em muitos países do mundo, será celebrado em igrejas vazias, mas que muitos fiéis vão encher com a sua mente e o seu coração, acompanhando as celebrações pelos meios de comunicação. O Senhor venceu, nada nem ninguém nos deve desanimar. E mais ainda, a Sua vitória encoraja-nos a renovar a luta com esperança.

Ao aproximarmo-nos da Quinta-feira Santa, em que vamos celebrar a instituição da Eucaristia, comove-nos ler as palavras de Jesus, no Evangelho de S. João: "Antes da festa da Páscoa, Jesus, sabendo bem que tinha chegado a sua hora da passagem deste mundo para o Pai, Ele, que amara os seus que estavam no mundo, levou o seu amor por eles até ao extremo" (Jo 13,1).

Vamos com a nossa imaginação ao Cenáculo de Jerusalém, para contemplar a grande demonstração de Amor que o Senhor nos dá. O nosso Deus está sempre próximo. Mas na Eucaristia, Ele entrega-se a nós com o seu corpo, com o seu sangue, com a sua alma, com a sua divindade. Ninguém é excluído desse amor. Jesus amou-nos "até ao extremo".

Neste amor até ao extremo, o Senhor quis carregar com os pecados de toda a humanidade, para nos devolver à amizade com Deus Pai. Na Quinta-feira Santa, recordaremos o momento em que o Senhor instituiu a Eucaristia, o sacrifício sacramental da nossa redenção. É um dia em que, tradicionalmente, tantos cristãos, manifestam de muitas formas a sua adoração e amor a Jesus Sacramentado.

Contudo, a Quinta-feira Santa deste ano tem um sabor diferente. Todos desejaríamos estar na velada diante do Santíssimo Sacramento... De modo particular aqueles que há muito tempo não conseguis receber o Senhor na Eucaristia, procurai viver a Comunhão espiritual com a segurança de que o Senhor está convosco.

Estamos perante uma ocasião única e diferente em que, com a ajuda de Deus, podemos crescer no amor a Jesus-Eucaristia, à Missa, de um modo novo. Jesus, queremos recordar e agradecer-Te por cada uma das vezes em que Te recebemos na Comunhão. Mesmo tendo-Te sempre perto, sentir a ausência da Tua presença sacramental servirá para aumentar o desejo de voltar a receber-Te de novo, quando for possível.

S. Josemaria ensinou a milhares de pessoas esta oração que aprendeu com um religioso escolápio: “Eu quisera, Senhor, receber-Vos com aquela pureza, humildade e devoção com que Vos recebeu a Vossa Santíssima Mãe, com o espírito e o fervor dos santos”. Rezá-la com carinho pode ser uma boa preparação para a Quinta-feira Santa: “Eu quisera, Senhor, receber-Vos com aquela pureza, humildade e devoção com que Vos recebeu a Vossa Santíssima Mãe, com o espírito e o fervor dos santos”.

A participação no Sacrifício Eucarístico não é apenas a lembrança de um facto do passado; a Missa é a atualização sacramental do sacrifício do Calvário, a entrega do Senhor, por nós, antecipada na Última Ceia. "Fazei isto em memória de Mim" (Lc 22, 19).

S. João Paulo II escreveu que o sacrifício da Cruz “é tão decisivo para a salvação da humanidade, que Jesus Cristo realizou-o e só voltou para o Pai depois de nos ter deixado o meio para dele participar, como se tivéssemos estado presentes.”

Em cada celebração eucarística, a Igreja torna sacramentalmente presente a paixão e a morte de Cristo. Nenhuma missa é "privada". Cada missa é "universal", porque cada missa é de Cristo e, com Ele, está o Seu Corpo, que é a Igreja. E a Igreja é cada um dos batizados: somos cada um de nós.

Portanto, perante a impossibilidade de assistir à Missa nestes dias, tende a certeza de que em cada Eucaristia que os padres celebram sem a assistência do povo, estamos todos presentes. Como S. Josemaria explicava: “Quando celebro a Santa Missa apenas com a participação daquele que ajuda à Missa, também aí há povo. Sinto junto de mim todos os católicos, todos os crentes e também os que não crêem. Estão presentes todas as criaturas de Deus – a terra, o céu, o mar, e os animais e as plantas –, dando glória ao Senhor a Criação inteira”[1].

Tende muita confiança na força que nos continua a chegar a todos pela celebração do sacrifício eucarístico, também aos que não podem estar presentes. Nós, os sacerdotes, queremos levar para cada missa todos os nossos irmãos e irmãs, todos os nossos familiares e amigos, toda a Igreja, toda a humanidade, de maneira muito particular os doentes e os que estão sozinhos.

Obrigado, Senhor, pela Eucaristia, pela Missa. Evocamos a imagem do Santo Padre abençoando a humanidade com a Custódia nas mãos, tendo diante a colunata da Praça de S. Pedro. Obrigado pela Eucaristia, Senhor. E obrigado pelo sacerdócio, que tem perpetuado esse Teu amor no tempo. Rezemos muito pelos sacerdotes.

[1]. Homilia “Sacerdote para a eternidade” no livro Amar à Igreja.


Musica: Beethoven Piano Concert n.5 - 2nd Movement (by @alvarosiviero, Alvaro Siviero)