Meditação especial: 5 de fevereiro de 2022 (áudio)

Meditação de ação de graças pelo 75.º aniversário do Opus Dei em Portugal.


«PAI SANTO e omnipotente, Deus eterno e misericordioso, por intercessão de Santa Maria, eu Te dou graças por todos os Teus benefícios, mesmo desconhecidos!–, ensinou-nos a rezar o nosso Padre– gratias tibi ago pro universis beneficiis tuis, etiam ignotis!». Neste dia de aniversário é muito adequada esta ação de graças, porque, embora conheçamos tantos benefícios que o Senhor omnipotente e misericordioso nos concedeu a partir de 5 de fevereiro de 1945, só no Céu compreenderemos tudo o que representa para a Obra e para cada um de nós a vinda do nosso santo Fundador e a dos primeiros a Portugal.

À maneira de Caná, Nossa Senhora adiantou a hora de Deus. Como nos dizia o nosso querido Padre, «as portas de Portugal foram-nos abertas pela Virgem, pelas mãos da Irmã Lúcia». A ela devemos a primeira oportunidade que teve o nosso Fundador, juntamente com D. Álvaro, de entrar no nosso país, de percorrer esta “Terra de Santa Maria”, de rezar por nós e por todos no santuário de Fátima, e de dar a conhecer a Obra a vários bispos, a um dos quais –o Cardeal de Lisboa– já manifestara o desejo de um próximo encontro. Este seu desejo de estender quanto antes a Obra a Portugal foi satisfeito, antes, mais e melhor do que seria de esperar, no dia 5 de fevereiro de 1945. Grátias tibi, Dómine, grátias tibi!

Mas não podemos esquecer na nossa gratidão aqueles irmãos nossos, que o Senhor já chamou a Si, que iniciaram o trabalho estável da Obra entre nós, em 1946, faz hoje 76 anos, pedindo a Deus que lhes conceda um grande prémio pela sua disponibilidade, generosidade e fidelidade na tarefa que o nosso Padre lhes encomendou, e que torne cada vez mais frutuosa a sua entrega rendida à vocação.

«Grátias tibi ágimus», porque o começo da Obra em Portugal e na Itália, simultaneamente, representou o começo da expansão da nossa Família pelo mundo inteiro e permitiu que o Opus Dei se apresentasse aos olhos do Romano Pontífice com manifesto cunho universal, como era urgente para o reconhecimento correto da sua verdadeira natureza. «Grátias tibi, Deus, grátias tibi!, porque “a semente caída do Céu” veio encher de amor outras nações!».

A essa prontidão do nosso Padre e dos nossos irmãos devemos a sorte divina e a responsabilidade de, nós, portugueses, termos sido chamados a participar na primeira juventude da Obra. “Adiantada” por Maria a hora dos começos em Portugal, foi “adiantada” também a nossa vocação, e, embora tudo isso corresponda a um prévio desígnio de Deus, como não havemos de agradecer a sua intercessão e a vibração apostólica do nosso Fundador e dos primeiros, que nos permitiram abrir o nosso caminho a amigos e parentes quando o Opus Dei ainda era “um botão” a despontar no mundo?

Te Deum laudamus, por tantos benefícios recebidos, e rogamos-Te que a nossa gratidão se traduza em crescente fidelidade às graças concedidas a cada um de nós e a toda a Região.


«SONHAI E ficareis aquém!», aconselhava-nos o nosso Padre. Assim como Deus pensou em nós antes da criação do mundo e do Seu pensamento saíram todas as maravilhas naturais e sobrenaturais, também dos anseios apostólicos, que o próprio Deus colocou no coração do nosso santo Fundador, saiu a expansão da Obra por toda a parte, com uma fecundidade admirável.

Agora, que a Obra está nas nossas mãos, e sempre, temos nós de caminhar como ele «ao passo de Deus», e de recorrer a Nossa Senhora para que continue a “adiantar” a Sua hora. Caritas Christi urget nos!, “a caridade de Cristo nos impele!”, recordava-nos com insistência o nosso Fundador. Temos pressa. E esta urgência começa na oração, na mortificação, no trabalho santificado, e no sonho de pegar a nossa vocação a milhares de almas.

Temos de imitar o nosso Padre no seu anseio de conquistar para Cristo o mundo inteiro. Ao entrar no nosso país no dia 5 de fevereiro de 1945, não pensava apenas em Portugal, mas em todo o apostolado que a partir daqui se faria. Pensava no Brasil, na África lusófona, na Índia, na China, em qualquer sítio onde estivéssemos presentes e aonde chegássemos. E com os mesmos sonhos vieram os primeiros —e as primeiras— à nossa terra, sem olhar a barreiras de qualquer género, tendo alguns deles ocasião de protagonizar especialmente esses sonhos no Brasil, e vários outros dos nossos irmãos e irmãs, que ajudaram e ajudam a desenvolver a Obra em países distantes.

Temos de sentir vivamente o anseio universal próprio da nossa vocação, levando a Obra a todos os recantos do país e dispondo-nos, com a prontidão dos primeiros, a mudar de sítio, de nação, de língua, de costumes, de mentalidade, se for preciso, para salvar almas e abrir em toda a parte os caminhos divinos da terra, tendo sempre nos lábios a expressão sincera da nossa disponibilidade: Ecce ego, quia vocasti me!, «aqui estou, porque me chamaste!» (1Sam 3, 5).


O SENHOR CHAMOU-NOS para «fazer o Opus Dei, sendo tu mesmo Opus Dei». A nossa vocação não nos consente nenhum burguesismo, essa tendência preguiçosa para pequenos sonhos de satisfação pessoal, ainda que pareçam interessantes e nobres. Sem o anseio de atear o fogo de Cristo ao mundo inteiro não seríamos Opus Dei, nem poderíamos fazê-lo. Para nós não pode haver barreiras de nenhum tipo, nem sequer a das nossas naturais limitações. Quando Deus chamou o nosso Padre a fazer a Obra, ele não viu em si senão «juventude, graça de Deus e bom humor. Nem uma virtude, nem uma peseta», dizia, com profunda humildade, mas plena convicção.

Realmente, nenhumas qualidades ou virtudes são proporcionais ao que o Senhor nos pede. A Obra é de Deus, e para fazê-la, a única coisa de que precisamos é juventude, graça de Deus e bom humor. Graça do Céu nunca nos faltará, porque «o Céu está empenhado em que se realize»; de nós depende apenas a juventude de espírito, o gosto pela aventura, neste caso uma aventura divina que nem no Céu terminará, uma aventura que, mais do que nenhuma, vale a pena; e o bom humor, que é outro sinal de juventude e consequência do amor recebido e correspondido.

Como o Padre nos referiu, este aniversário «é um bom momento para voltar a deixar tudo nas mãos de Deus, conscientes da missão a que fomos chamados, para ser e fazer o Opus Dei em qualquer circunstância, cheios de esperança», para aproximar muitas pessoas do calor da Obra, vivendo com afeto a fraternidade e dando «exemplo de otimismo: sempre há motivos para estar contentes, mesmo no meio das dificuldades, procurando relacionar-nos intimamente com Cristo, pondo-O no centro da nossa vida»[1].

«As portas de Portugal foram-nos abertas pelas mãos da Virgem» e pelas suas mãos benditas continuaremos a abrir as nossas almas aos apelos da nossa vocação apostólica e a abrir à vocação divina de entrega todas as almas –muitas almas– que o Senhor predestinou. Basta-nos seguir o caminho humilde e simplicíssimo da nossa Mãe: Ecce ancilla Domini; fiat mihi secundum verbum tuum!, «eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a Tua palavra!» (Lc 1, 38).


[1] Fernando Ocáriz, Carta, 28/01/21.