Homilia do Prelado na ordenação presbiteral (9 maio 2015)

Homilia pronunciada por D. Javier Echevarría na ordenação sacerdotal de 32 presbíteros do Opus Dei (9-V-2015).

Homilia na ordenação presbiteral de diáconos

da Prelatura do Opus Dei

Basílica de Santo Eugénio, 9-V-2015

D. Javier Echevarría, Prelado do Opus Dei

Queridíssimos novos sacerdotes. Queridos irmãos e irmãs.

1. Na oração colecta, pedimos a Deus a graça de viver com renovado empenho estes dias de alegria em honra de Cristo ressuscitado[1]. A ordenação sacerdotal destes diáconos sublinha de modo plástico o júbilo pascal que enche a Igreja. Estou certo de que esta alegria — como dizia o Papa Francisco há algumas semanas — «penetrou no íntimo do nosso coração, configurou-o e fortaleceu-o sacramentalmente»[2]. Esta realidade pode afirmar-se de cada cristão, já que todos fomos ungidos no Batismo e na Confirmação pelo Espírito Santo, que nos configurou com Cristo e nos fez participantes do seu único sacerdócio. Hoje, de modo diferente, estes nossos irmãos receberão uma nova unção do Paráclito, que os configurará com Cristo enquanto Cabeça da Igreja e lhes comunicará os poderes para desenvolver o ministério sacerdotal, em nome e com a autoridade do próprio Cristo.

Para vós, meus filhos, é um dia de alegria especial. E, convosco, alegra-se também a Igreja. «A alegria do sacerdote é, com efeito, um bem precioso, não só para ele próprio, mas para todo o povo fiel de Deus»[3].

2. A vocação ao sacerdócio é uma chamada gratuita que Deus dirige a alguns homens para o serviço da Igreja, sem ter em conta méritos precedentes nem outras considerações. Este é o modo de atuar de Deus, como ensina a primeira leitura da Missa. Face à estreiteza de coração de alguns, que se opunham ao Baptismo dos primeiros gentios, São Pedro explica-lhes que Deus não faz aceção de pessoas, mas que em qualquer povo lhe é agradável todo o que O teme e pratica a justiça[4].

Comprovamos a grandeza do amor do Senhor — e não podemos saber quão infinito é — vendo também a procedência dos novos sacerdotes, que pertencem a quatro continentes e a quinze nações. Demos graças ao Senhor pela sua bondade e rezemos por eles e pelos sacerdotes do mundo inteiro. Dêmo-nos conta de que a Trindade dialoga com cada um de nós, também por meio de circunstâncias tão variadas. Ao mesmo tempo, sugiro-vos que rezeis por todas as famílias do mundo, já que no seio dos lares cristãos Deus costuma cultivar — como num viveiro — as diversas formas de vocação à santidade.

O sacerdócio, dizia, é uma chamada gratuita, mas tem uma importância insubstituível na Igreja. São Josemaria escreve que muitas coisas grandes dependem do sacerdote: temos Deus, trazemos Deus, damos Deus (...). Pensai nisto, nessa divinização até do nosso corpo; nessa língua que traz Deus; nessas mãos que O tocam, nesse poder de fazer milagres, ao administrar a graça. Nada valem todas as grandezas deste mundo, em comparação com o que Deus confiou ao sacerdote[5].

3. E vós, queridos ordenandos, pensai que a partir de agora sereis ministros e dispensadores dos mistérios de Deus. Explicareis a todos a Palavra de Deus; dispensareis a graça nos sacramentos, de modo especial na Eucaristia e na Penitência; guiareis o povo cristão aos pastos da vida eterna, também com a vossa oração e o vosso bom exemplo; e servireis de apoio às almas para que conheçam cada vez melhor as maravilhas da vida cristã.

Numa recente ordenação de presbíteros, o Papa Francisco expressava-se do seguinte modo: «Conscientes de que fostes escolhidos de entre os homens e constituídos no que se refere a Deus, exercitai com alegria e sincera caridade a obra sacerdotal de Cristo, procurando apenas agradar a Deus e não a vós mesmos»[6].

Por esta razão — acrescento com palavras do nosso Fundador — o sacerdote deve ser exclusivamente um homem de Deus, recusando o pensamento de querer brilhar nos campos em que os demais cristãos não necessitam dele. O sacerdote não é um psicólogo, nem um sociólogo, nem un antropólogo: é outro Cristo, o próprio Cristo, para atender as almas dos seus irmãos[7].

4. Quereria recordar-vos brevemente alguns pontos em relação ao vosso futuro ministério. Em primeiro lugar, a pregação da Palavra de Deus. Ex abundantia cordis, os loquitur, afirma o Senhor no Evangelho[8]. Para falar de Deus, retirai da abundância do vosso coração bem unido ao seu Coração; para isto é preciso que cuideis da nossa meditação diária, aprofundando nos conteúdos da Sagrada Escritura com a ajuda do Espírito Santo.

No que diz respeito ao perdão dos pecados na Penitência, procurai sempre dar a absolvição; e se algum fiel não se encontra bem disposto, ajudai-o com paciência, com caridade, com espírito de sacrifício. O Senhor tinha misericórdia dos pecadores e chamava-os à conversão. E São Josemaria, que procurava atuar com um coração à medida do coração misericordioso de Jesus, não duvidou em escrever: ao atender as almas no santo sacramento da Penitência, lembrai-vos daquela passagem do Evangelho, quando o Senhor, à pergunta sobre quantas vezes se há-de perdoar, responde: não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete (Mt 18, 22). Sempre: perdoar sempre, também no sacramento da Penitência. Eu não tive inconveniente em perdoar, muitas vezes no mesmo dia, de muitas faltas da mesma matéria à mesma pessoa, porque non est opus valentibus medicus, sed male habentibus (Mt 9, 12); não são os que têm saúde que necessitam de médico, mas os doentes. E simultaneamente, tendes de fazer o que for necessário para que as almas não abusem da graça divina[9].

A Eucaristia! Não existem palavras que expressem de modo adequado a maravilha do sacramento eucarístico. Esforçai-vos cada dia por celebrar a Santa Missa do melhor modo possível. No sacrifício do altar encontramos todos — sacerdotes e leigos — a graça de que necessitamos para a nossa santificação pessoal e para a santificação dos fiéis. E não tenhais pressa! Dir-vos-ei com São Josemaria.

Felicito de novo os vossos pais, os familiares e amigos, todos os que participam nesta cerimónia e quantos não puderam estar aqui presentes. A todos peço que rogueis pelos novos sacerdotes; contam verdadeiramente com as vossas orações para serem dignos ministros d'Aquele que os amou com predileção e lhes chamou amigos[10].

Lembrai-vos também de mim nas vossas orações. E elevemos as nossas súplicas diariamente pelo Papa, pelos Bispos, pelos sacerdotes, por toda a humanidade.

Confiamos estas intenções à intercessão de Maria, Mãe da Igreja, no mês de maio que começámos, dedicado especialmente à Santíssima Virgem.

Louvado seja nosso Senhor Jesus Cristo!


[1]Domingo VI de Páscoa, Oração colecta.

[2]Papa Francisco, Homilia na Missa Crismal de Quinta-feira Santa, 17-IV-2014.

[3]Ibid.

[4]Domingo VI de Páscoa, Primeira leitura (B) (Act 10, 34-35).

[5]S. Josemaria, Carta 8-VIII-1956, n. 17.

[6]Papa Francisco, Homilia numa ordenação sacerdotal, 26-IV-2015.

[7]S. Josemaria, Cristo que passa, n. 79.

[8]Mt12, 34.

[9]S. Josemaria, Carta 8-VIII-1956, n. 30.

[10]Cfr. Domingo VI de Páscoa, Evangelho (B) (Jn 15, 14).