Pode-se enfrentar com serenidade a morte?
A Ressurreição de Jesus não confere apenas a certeza da vida além da morte, mas ilumina também o próprio mistério da morte de cada um de nós. Se vivermos unidos a Jesus, se formos fiéis a Ele, seremos capazes de enfrentar com esperança e serenidade também a passagem da morte.
Papa Francisco, Audiência geral, 27 /11/2013.
Cada dia que passa aproxima-te à Vida
Já viste, numa tarde de Outono, cair as folhas mortas? Assim caem todos os dias as almas na eternidade. Um dia, a folha caída serás tu.
Não tens ouvido com que tom de tristeza se lamentam os mundanos de que "cada dia que passa é morrer um pouco"?
Pois eu te digo: alegra-te, alma de apóstolo, porque cada dia que passa te aproxima da Vida.
A morte chegará inexoravelmente. Portanto, que oca vaidade a de centrar a existência nesta vida! Repara como sofrem tantas e tantos: uns, porque ela se acaba, custa-lhes deixá-la; outros, porque dura demais, aborrece-os…
Nunca se pode entender a nossa passagem pela Terra como um fim. É preciso sair dessa lógica errada, e firmar-se na outra, na eterna. E para isso é necessária uma mudança total: esvaziar-nos de nós mesmos, dos motivos egocêntricos, que são caducos, para renascermos em Cristo, que é eterno.
Continua para a frente, com alegria, com esforço, mesmo sendo tão pouca coisa, nada!
Com Ele, ninguém te parará no mundo. Pensa, além disso, que tudo é bom para os que amam a Deus: nesta terra, tudo tem solução menos a morte; e, para nós, a morte é Vida.
Sem medo da morte
Se és apóstolo, a morte será para ti uma boa amiga que te facilita o caminho.
Aos "outros", a morte paralisa-os e espanta-os. – A nós, a morte – a Vida – dá-nos ânimo e impulso.
Para eles, é o fim; para nós, o princípio.
Tu – se és apóstolo – não hás de morrer. – Mudarás de casa, e nada mais.
Não tenhas medo da morte. – Aceita-a, desde agora, generosamente…, quando Deus quiser…, como Deus quiser…, onde Deus quiser. – Não duvides; virá no tempo, no lugar e do modo que mais convier…, enviada pelo teu Pai-Deus. – Bem-vinda seja a nossa irmã, a morte!
Quando pensares na morte, não tenhas medo, apesar dos teus pecados. Porque Ele já sabe que O amas… e de que massa és feito.
Se tu O procurares, Ele acolher-te-á como o pai ao filho pródigo. Mas tens de O procurar!
Um filho de Deus não tem medo da vida nem medo da morte, porque o fundamento da sua vida espiritual é o sentido da filiação divina: Deus é meu Pai, pensa, e é o Autor de todo o bem, é toda a Bondade.
– Mas tu e eu procedemos, de verdade, como filhos de Deus?
Morrer é uma coisa boa. Como pode ser que haja quem tenha fé e, ao mesmo tempo, medo da morte?… Mas, enquanto Nosso Senhor te quiser manter na terra, morrer, para ti, é uma cobardia. Viver, viver e padecer e trabalhar por Amor: isto é o que te compete.
A felicidade do Céu
Um cristão sincero, coerente com a sua fé, não actua senão com os olhos em Deus, com visão sobrenatural; trabalha neste mundo, que ama apaixonadamente, metido nos afãs da terra, com o olhar no Céu.
Cada vez estou mais persuadido: a felicidade do Céu é para os que sabem ser felizes na terra.
Não há melhor senhorio que saber-se ao serviço: ao serviço voluntário de todas as almas!
É assim que se ganham as grandes honras: as da terra e as do Céu.
Se alguma vez te tira tranquilidade o pensamento da nossa irmã a morte (porque te vês tão pouca coisa!), anima-te e considera: – Que será esse Céu que nos espera, quando toda a formosura e a grandeza, toda a felicidade e o Amor infinitos de Deus se derramarem no pobre vaso de barro que é a criatura humana, e a saciarem eternamente, sempre com a frescura de uma nova alegria?
Escrevias: “'simile est regnum caelorum', o Reino dos Céus é semelhante a um tesouro… Esta passagem do Santo Evangelho caiu na minha alma lançando raízes. Tinha-a lido tantas vezes, sem captar o seu âmago, o seu sabor divino”.
Tudo…, tudo há de vender o homem prudente, para conseguir o tesouro, a pérola preciosa da Glória!
Pensa quão grato é a Deus Nosso Senhor o incenso que se queima em sua honra; pensa também no pouco que valem as coisas da terra, que mal começam logo acabam…
Pelo contrário, um grande Amor te espera no Céu: sem traições, sem enganos: todo o amor, toda a beleza, toda a grandeza, toda a ciência…! E sem enfastiar: saciar-te-á sem saciar.
Visão sobrenatural! Calma! Paz! Olha assim para as pessoas, para as coisas, para os acontecimentos…, com olhos de eternidade.
Então, qualquer muro que te feche a passagem – mesmo que, humanamente falando, seja de respeito –, logo que levantes de verdade os olhos para o Céu, que pouca coisa é!
Visão sobrenatural! Calma! Paz! Olha assim para as pessoas, para as coisas, para os acontecimentos…, com olhos de eternidade.
Então, qualquer muro que te feche a passagem – mesmo que, humanamente falando, seja de respeito –, logo que levantes de verdade os olhos para o Céu, que pouca coisa é!
Como amava a Vontade de Deus aquela doente que atendi espiritualmente!: via na doença, longa, penosa e multíplice (não tinha nada são), a bênção e as predilecções de Jesus; e, ainda que afirmasse na sua humildade que merecia castigo, a terrível dor que em todo o seu organismo sentia não era castigo, era uma misericórdia.
Falámos da morte. E do Céu. E do que havia de dizer a Jesus e a Nossa Senhora… E de como dali "trabalharia" mais que aqui… Queria morrer quando Deus quisesse… – Mas – exclamava, cheia de alegria – ai, se fosse hoje mesmo! Contemplava a morte com a alegria de quem sabe que, ao morrer, vai ter com o seu Pai.
O tempo é breve para fazer o bem
Ficaste muito sério ao ouvir-me: aceito a morte quando Ele quiser, como Ele quiser e onde Ele quiser; e, ao mesmo tempo, penso que é "um comodismo" morrer cedo, porque temos de desejar trabalhar muitos anos para Ele e, por Ele, ao serviço dos outros.
Ficaste muito sério ao ouvir-me: aceito a morte quando Ele quiser, como Ele quiser e onde Ele quiser; e, ao mesmo tempo, penso que é "um comodismo" morrer cedo, porque temos de desejar trabalhar muitos anos para Ele e, por Ele, ao serviço dos outros.
Também depende de ti que muitos não permaneçam nas trevas e caminhem por sendas que levem até à vida eterna.
Habitua-te a confiar cada uma das pessoas com quem te dás ao seu Anjo da Guarda, para que a ajude a ser boa e fiel e alegre; para que possa receber, a seu tempo, o eterno abraço de Amor de Deus Pai, de Deus Filho, de Deus Espírito Santo e de Santa Maria.
O tempo é vida
Se o tempo fosse apenas ouro… talvez pudesses perdê-lo. Mas o tempo é vida, e tu não sabes quanto te resta.
Para nós, cristãos, a fugacidade do caminho terreno deve incitar-nos a aproveitar melhor o tempo, não a temer Nosso Senhor, e muito menos a olhar a morte como um final desastroso. Um ano que termina – já foi dito de mil modos, mais ou menos poéticos – com a graça e a misericórdia de Deus, é mais um passo que nos aproxima do Céu, nossa Pátria definitiva.
Ao pensar nesta realidade, compreendo perfeitamente aquela exclamação que S. Paulo escreve aos de Corinto: tempus breve est!, que breve é a nossa passagem pela terra! Para um cristão coerente, estas palavras soam, no mais íntimo do seu coração, como uma censura à falta de generosidade e como um convite constante a ser leal. Realmente é curto o nosso tempo para amar, para dar, para desagravar. Não é justo, portanto, que o malbaratemos, nem que atiremos irresponsavelmente este tesouro pela janela fora. Não podemos desperdiçar esta etapa do mundo que Deus confia a cada um de nós.
O verdadeiro cristão está sempre preparado para comparecer diante de Deus. Porque, se luta por viver como homem de Cristo, está sempre disposto a cumprir o seu dever.
A felicidade eterna
Se anelas ter vida, e vida e felicidade eternas, não podes sair da barca da Santa Madre Igreja. – Olha, se te distancias do âmbito da barca, perder-te-ás entre as ondas do mar, morrerás, afogado no oceano; deixas de estar com Cristo, perdes a sua amizade, que escolheste voluntariamente, quando reparaste que Ele ta oferecia.
– Para salvar o homem, Senhor, morres na Cruz; e, contudo, por um só pecado mortal, condenas o homem a uma eternidade infeliz de tormentos…: quanto te ofende o pecado, e quanto devo odiá-lo!
Vejo com meridiana clareza a fórmula, o segredo da felicidade terrena e eterna: não se conformar apenas com a Vontade de Deus, mas aderir, identificar-se, querer – numa palavra –, com um acto positivo da nossa vontade, a Vontade divina.
– Este é o segredo infalível, insisto, da alegria e da paz.
Viver e morrer como enamorados
Não faças da morte uma tragédia, porque o não é! Só filhos sem coração não se entusiasmam com o encontro com os pais!
Não queiras fazer nada para ganhar mérito nem por medo das penas do purgatório: desde agora e para sempre, empenha-te em fazer tudo, até as coisas mais pequenas, para dar gosto a Jesus.
– Meu Deus, quando te quererei a Ti, por Ti? Ainda que, bem vistas as coisas, Senhor, desejar o prémio perdurável é desejar-te a Ti, que Te dás como recompensa.
Por desgraça, alguns, com uma visão digna mas rasteira, com ideais exclusivamente caducos e fugazes, esquecem que os anelos do cristão se hão de orientar para cumes mais elevados: infinitos. O que nos interessa é o próprio Amor de Deus, é gozá-lo plenamente, com um júbilo sem fim. Temos comprovado, de muitas maneiras, que as coisas da terra hão de passar para todos, quando este mundo acabar; e já antes, para cada um, com a morte, porque nem as riquezas nem as honras acompanham ninguém ao sepulcro. Por isso, com as asas da esperança, que anima os nossos corações a levantarem-se para Deus, aprendemos a rezar: in te Domine speravi, non confundar in æternum, espero em Ti, Senhor, para que me dirijas com as tuas mãos agora e em todos os momentos pelos séculos dos séculos.
Perante a Cruz, dor dos nossos pecados, dos pecados da Humanidade, que levaram Jesus à morte; fé, para penetrarmos nessa verdade sublime que ultrapassa todo o entendimento e para nos maravilharmos com o amor de Deus.; oração, para que a vida e a morte de Cristo sejam o modelo e o estímulo da nossa vida e da nossa entrega. Só assim nos chamaremos vencedores! Porque Cristo ressuscitado vencerá em nós, e a morte transformar-se-á em vida.
Perante a Cruz, dor dos nossos pecados, dos pecados da Humanidade, que levaram Jesus à morte; fé, para penetrarmos nessa verdade sublime que ultrapassa todo o entendimento e para nos maravilharmos com o amor de Deus.; oração, para que a vida e a morte de Cristo sejam o modelo e o estímulo da nossa vida e da nossa entrega. Só assim nos chamaremos vencedores! Porque Cristo ressuscitado vencerá em nós, e a morte transformar-se-á em vida.
Na hora da tentação, exercita a virtude da Esperança, dizendo: para descansar e gozar, aguarda-me uma eternidade; agora, cheio de Fé, vamos ganhar com o trabalho, o descanso; e, com a dor, a alegria… Que será o Amor, no Céu?
Melhor ainda, exercita o Amor, reagindo assim: quero dar gosto ao meu Deus, ao meu Amado, cumprindo a sua Vontade em tudo…, como se não houvesse prémio nem castigo: somente para lhe agradar.
Nunca esqueçais que depois da morte vos receberá o Amor. E no amor de Deus encontrareis, além do mais, todos os amores limpos que tenhais tido na terra. O Senhor dispôs que passemos esta breve jornada da nossa existência, trabalhando e, como o seu Unigénito, fazendo o bem. Entretanto, temos de estar alerta, à escuta daquelas chamadas que Santo Inácio de Antioquia notava na sua alma, ao aproximar-se a hora do martírio: vem para junto do Pai, vem para o teu Pai que te espera ansioso.
Peçamos a Santa Maria, Spes nostra, que nos inflame no santo empenho de habitarmos todos juntos na casa do Pai. Nada nos poderá preocupar, se decidirmos firmar o coração no desejo da verdadeira Pátria: o Senhor nos conduzirá com a sua graça e impelirá a barca com bom vento para tão claras margens.