Benedita Santiago Neves: 22 anos na comunicação do Opus Dei

Faleceu no dia 7 de setembro de 2022. Para assinalar o primeiro aniversário, publicamos um texto do diretor do gabinete de imprensa. E indicamos as Missas de sufrágio.

Paula, Benedita e Dina num jantar no Colégio Português na véspera do seminário “O Vaticano por dentro e in loco” (Roma, junho 2022).

Há um ano atrás

«Pedro, não posso adiar mais. Estou doente, já tenho o diagnóstico geral, mas nada de concreto. Vou fazer uma biópsia depois de amanhã e vai ser o tira teimas. Já contei ao Pe. José Rafael. Peço ao Pedro para não contar a ninguém. Reze por mim e para que seja fiel a vontade de Deus. Obrigada».

whatsapp chegou a meio da tarde do dia 16 de agosto de 2022. Fiquei mudo. Ou eu conhecia muito mal a Benedita, ou o assunto só podia ser muito sério. Era uma mulher muito forte, firme, gostava de passar despercebida, nunca foi pessoa de se queixar. Em resposta disse-lhe a minha perplexidade, prometi orações e que as pediria às Monjas de Belém, a quem recorro quando a necessidade é grande. «Agradeço. Amanhã vem cá o Pe. Mendo para receber a unção dos doentes». O assunto era mesmo muito sério.

Com Mons Fernando Ocáriz, prelado do Opus Dei, Benedita, Smitá, Sara e Maria do Rosário. (Roma, junho 2022).

É verdade, emagrecera, e, desde que regressámos de Roma em junho, vindos do seminário que, muito por alento dela, organizámos para jornalistas portugueses com o título “O Vaticano por dentro e in loco”, andava com a voz um pouco velada. Mas como tínhamos lá apanhado COVID, havia explicação.

De resto, continuava a mesma Benedita de sempre. Estávamos a planear um projeto de viagem de estudo à Terra Santa, que, sem ela, está agora parado. Ainda quinze dias antes, a Benedita, eu, e os futuros padres Jorge Oliveira e Francisco Serrano, tínhamos ido visitar D. Manuel Clemente para uma saudação breve antes das férias. Pela simpatia do Cardeal Patriarca, a conversa estendeu-se, agradável e amiga, mostrou-nos a capela, e tudo correu bem.

Foto de grupo dos participantes no seminário “O Vaticano por dentro e in loco” (Roma, junho 2022).

No dia seguinte, era o batizado de uma filha do Ricardo, jornalista nosso amigo, que nos tinha convidado. Nessa manhã, muito cedo, informou-me: «ontem (foi quando fomos à capela do D. Clemente) dei um mau jeito ao joelho e estou com alguma dificuldade em dobrá-lo. Por isso, já avisei o Ricardo que não iria ao batizado. Disseram-me para não fazer força sobre o joelho e pôr gelo, em 2 dias, estarei pronta para outra». Hoje duvido que fosse “só” isso. Mas a preocupação maior dela era outra: “a mãe da Sara piorou nestes últimos dias”, e veio a falecer três dias depois. A Sara fazia, e faz, parte do nosso gabinete de imprensa.

Já só voltei a ver a Benedita uma vez, acompanhado do Jorge Oliveira e na presença muito amável da família, no dia 27, em sua casa. Estava luminosa, serena, bem humorada e... muito marcada pela doença. Não houve grandes palavras.

Após a conferência de D. Tolentino no seminário “O Vaticano por dentro e in loco”, com Cristina e Isaac (Roma, junho 2022).

Entretanto, a medicina fez tudo o que podia, mas já só pôde muito pouco. Até ao dia 7 em que Deus Pai a chamou ainda trocámos algumas mensagens. Era consciente de estar numa nova, e última, etapa da vida. Parecia dedicada já só ao essencial. Exemplo: num dos últimos dias referiu-me um dos padres que diariamente lhe levou a comunhão: «tem sido um exemplo de adesão total à Igreja. Sem qualquer dúvida. Tem uma atitude muito semelhante à minha, é Cristo que interessa, mais nada. É muito feliz no seu ministério». Precisamente: centrada em Cristo, e feliz.

Nesse dia 7 estive em Fátima e pedi o impossível, porque nunca é inútil pedir, mesmo que seja o impossível.

A Missa de funeral, no dia 9, foi presidida pelo Vigário Regional do Opus Dei, Pe. José Rafael Espírito Santo. Concelebraram, com ele, um franciscano, um jesuíta, um padre da Sociedade de São Paulo, alguns padres do Opus Dei e vários padres diocesanos, em especial o padre da paróquia da Benedita, o Pe. Nuno, de Cascais, que a acompanhou com muita proximidade nas últimas semanas de vida. Vi nessa variedade, tão amiga, um sinal do amor da Benedita pela Igreja, um amor aberto, universal, e pleno.

Carta para a Benedita Santiago Neves sobre o projeto “75 anos do Opus Dei, 75 famílias” em que se envolveu desde o início.

22 anos na comunicação do Opus Dei

Poucas horas depois do falecimento comuniquei assim aos jornalistas e comunicadores da Igreja que participaram no seminário “O Vaticano por dentro e in loco”, com palavras que mantenho:

«Caros participantes no “Vaticano por dentro e in loco”, desculpem recorrer a um WhatsApp não personalizado. Pensei que vos devia dar esta notícia muito triste: a Benedita Santiago Neves faleceu hoje. Passaram num instante três semanas entre o primeiro diagnóstico e a sua partida. Trabalhei com ela desde o ano 2000. Aprendemos e vivemos em equipa muitos momentos, dos muito fáceis aos muito duros. Sempre serena, prudente, equilibrada, disponível, criativa, motivadora, paciente. Preferiu sempre não ser rosto, mas era muito, quase tudo, no gabinete.

Tive a sorte de ainda a ver no dia 27. Apesar de já muito marcada pela doença, estava em paz, alegre, preocupada pelos outros, e muito ciente da nova e breve fase da sua vida. Foi amiga de Deus até ao fim, e foi sempre uma filha leal da Igreja. Fui um privilegiado por ter trabalhado com ela. Ela foi o coração de muitas iniciativas bonitas, também o seminário que nos reuniu em Roma. A Isabel Figueiredo captou-a lá muito bem na foto que mando. A quem goste de rezar, peço orações por ela, embora eu esteja convencido que está junto de Deus. Peço também orações pela Família, que é extraordinária, e para quem estes momentos só podem ser muito duros».

Para a Benedita a prioridade era Deus e a família. A seguir, a profissão: era advogada dedicada, competente, comprometida, e gostava muito do que fazia. A sua dedicação ao gabinete de imprensa era complementar a tudo isso, não só com uma grande generosidade e disponibilidade, mas sobretudo como uma assimilação muito consistente dos valores da comunicação.

Chegaram-nos muitos sinais da admiração e simpatia que a Benedita suscitou em muitas pessoas. Destaco dois testemunhos públicos que abrangem simultaneamente o perfil pessoal e a competência em comunicação que foi consolidando ao longo do tempo.

Benedita, Rosário e Bárbara num intervalo do seminário “O Vaticano por dentro e in loco”.

A diretora do Secretariado Nacional das Comunicações Sociais (SNCS), da Conferência Episcopal Portuguesa, Isabel Figueiredo, disse na sessão inaugural das Jornadas Nacionais de Comunicação Social, em 22 de setembro de 2022:

«Não posso terminar este brevíssimo tempo de início de jornada sem trazer até nós uma amiga que partiu inesperadamente no dia 7 de setembro após um brevíssimo tempo de uma doença fatal. Falo da Benedita Santiago Neves, amiga e conhecida de tantos de nós. A Bita, como era conhecida entre amigos, trabalhou durante cerca de 20 anos no gabinete de comunicação do Opus Dei e foi sempre uma defensora incansável do trabalho dos jornalistas e da importância da comunicação social. Tinha sempre aquela qualidade de estar sempre a empurrar os outros para a frente, de animar, de incentivar, de nos querer a fazer mais e melhor, enquanto ela permanecia por detrás do palco a fazer tudo acontecer. Muitas vezes a Bita me animou e incentivou, sublinhando a necessidade de termos mulheres e raparigas a trabalharem na comunicação social da Igreja. Dizia ela: “é preciso, Isabel, é preciso”. Estava muito entusiasmada com a nossa Jornada Mundial da Juventude e estaria aqui connosco certamente, como sempre aconteceu nos últimos anos. Acreditamos que ela continua connosco e que nos vai acompanhar, à medida do céu. Queria, por isso, terminar com um agradecimento especial à Benedita por tudo o que ela fez por tantos de nós e por tudo o que deu à comunicação social da Igreja. E, como a Bita dizia, “agora vamos trabalhar”...»

Palavras de Isabel Figueiredo sobre a Benedita Santiago Neves a partir de 15:02".

No Correio da Manhã de 18 de setembro de 2022, na sua crónica habitual, Miriam Assor, judia, jornalista e amiga de juventude da Benedita, publicou o texto “Benedita, Bendita”. Aí se lê:

«Morreu, a Benedita morreu. A frase escrita dói imensamente. O texto depois do funeral são rajadas no coração. As palavras desaparecem. (...) O reencontro com a Benedita, há mais de década, aconteceu através de um trabalho jornalístico, para o "Correio da Manhã", sobre o Opus Dei. O gabinete de Comunicação do Opus Dei em Portugal não se resume a protagonizar um mero elo protocolar com a imprensa e não é uma boleia para catequizar jornalistas. Colaboradora da equipa, o seu trabalho e empenho total deram frutos sociais, ao longo de 20 anos. Leiga, supranumerária, Benedita Santiago Neves pediu admissão ao Opus Dei, em 1995, atraída pela mensagem da santificação das pessoas através do trabalho normal e corrente. Trabalhou abnegadamente e intensamente com olhos que conheciam o que não se vê: fé.

Os mortos ganham qualidades, dirão aqueles que a desconhecem. Incansável, dedicada, generosa, íntegra, a Benedita praticava o que melhor sabia: amar. Nos fios de luz em que a sua existência terrena se ia acabando, sofreu discretamente e não esqueceu os amigos nos derradeiros sóis que ainda viu sair do mar. Deus sabe mais ou Deus sabe o que faz, deveria sossegar a tristeza se estivéssemos preparados para entender o que Deus faz».

Pedro Gil
Diretor do Gabinete de Imprensa do Opus Dei
press.pt@opusdei.org
tm: 96 951 92 36


Missas no primeiro aniversário do falecimento

Dia 07/09/2023, quinta-feira:

  • 18h30 - Igreja de Nossa Senhora da Porta do Céu, Telheiras, Lisboa
  • 19h00 - Oratório de S. Josemaria, Lisboa
  • 19h15 - Igreja de Nossa Senhora da Assunção, Cascais

Dia 09/09/2023, sábado:

  • 18h00 - Igreja de Nossa Senhora do Amparo, Benfica, Lisboa
  • 19h00 - Igreja de S. João de Brito, Lisboa

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