Carta do Prelado (julho 2015)

Nesta ocasião, D. Javier Echevarría recorda a importância que tem em cada lar prestar ajuda aos outros para que cresçam na fé e na vida cristã.

Queridíssimos: que Jesus me guarde as minhas filhas e os meus filhos!

À medida que o ano mariano vai passando, procuramos tornar mais intensa a nossa prece pelo próximo Sínodo dos Bispos sobre a família. O Papa Francisco não se cansa de pedir uma oração cheia de amor pela família e pela vida. Uma oração que saiba alegrar-se com quem se alegra e sofrer com quem sofre (…). Desta forma, apoiada e animada pela graça de Deus, a Igreja poderá comprometer-se e estar ainda mais unida, no testemunho da verdade do amor de Deus e da Sua misericórdia pelas famílias do mundo, sem excluir nenhuma, tanto dentro como fora do redil [1].

A intercessão de Maria é decisiva. Recorramos a Ela com muita confiança, na preparação da festa de 16 de julho. A memória litúrgica de Nossa Senhora do Carmo renova o convite a redobrar as nossas petições ao Céu. Por esta invocação, a Igreja anima-nos a recorrer Àquela que, com o seu auxílio e os seus cuidados maternos, nos torna dignos de chegar ao monte santo que é Cristo [2].

S. João Paulo II sublinhava a necessidade absoluta da catequese no âmbito da família, especialmente agora que «uma legislação antirreligiosa pretende até impedir a educação para a fé, e onde a incredulidade difundida ou o secularismo avassalador tornam praticamente impossível um verdadeiro crescimento religioso» [3].

Todos nos encontramos jubilosamente comprometidos nesta tarefa: com a confiança posta em Deus e com otimismo, sem nos deixarmos influenciar por nenhum ambiente adverso, nem pelas dificuldades objetivas que se possam apresentar. Olhai que a mão do Senhor não diminuiu para nos salvar, nem o Seu ouvido se endureceu para nos ouvir [4], diz-nos o profeta Isaías. Deus é o mesmo de sempre. Fazem falta homens de fé: e renovar-se-ão os prodígios que lemos na Sagrada Escritura [5].

Este trabalho no seio da família compete em primeiro lugar aos pais. Segundo a idade e as caraterísticas de cada um dos filhos, hão-de ensinar-lhes os significados profundos da fé e da caridade de Jesus Cristo. «Mediante o testemunho da sua vida, são os primeiros mensageiros do Evangelho junto dos filhos. Mais ainda: rezando com os filhos, dedicando-se com eles à leitura da Palavra de Deus e inserindo-os no íntimo do Corpo de Cristo, eucarístico e eclesial, pela iniciação cristã, tornam-se plenamente pais, progenitores não só da vida corporal, mas também daquela que, mediante a renovação do Espírito, brota da Cruz e da Ressurreição de Cristo» [6].

São inúmeras as manifestações de gratidão a S. Josemaria, em todo o mundo, pelas suas palavras de estímulo aos casais, às famílias. Dizia ele, com uma frase da Sagrada Escritura: Dícite iusto quóniam bene (cf Is 3, 10), estais a fazer tudo muito bem, porque não trouxestes os vossos filhos ao mundo como os animais os trazem. Vós sabeis que eles têm alma, e que há uma vida para além da morte, uma vida de felicidade eterna ou de condenação eterna, e quereis que os vossos filhos sejam felizes aqui e lá. Deus vos abençoe! [7].

Também os outros membros da família, especialmente os irmãos mais velhos, os avós, etc., têm a especial responsabilidade de ajudar os mais novos no crescimento da fé e da vida cristã. E em todos os sítios onde procuramos implantar o ambiente de Nazaré, havemos de atuar assim, com o testemunho do exemplo e com a palavra adequada, procurando prestar este serviço fraterno, que é o mais importante que podemos prestar.

Contudo, não podemos esquecer que nalgumas famílias e lugares onde se cuida a formação na doutrina cristã, introduzem-se às vezes gérmenes que debilitam ou apagam mesmo a fé dos que acreditam. Com sentido de responsabilidade, sem inquietações nem desânimos, as mães e os pais hão-de esmerar-se no seu jubiloso dever de educadores na fé. Não basta confiar os filhos a uma escola com reto critério doutrinal, nem contentar-se com o facto de frequentarem ambientes onde se lhes oferece formação católica adequada à idade de cada um. Tudo isso constitui uma ajuda, uma ótima ajuda, mas a primeira responsabilidade compete sempre aos pais.

Quando questionavam o nosso Fundador sobre estes temas, costumava aconselhar: tendes que defender a fé dos vossos filhos de duas maneiras: primeiro com a vossa atuação cristã, com o vosso exemplo. E depois com a doutrina, procurando rever o Catecismo (…). E sem aborrecer muito os vossos filhos, haveis de os ir formando na boa doutrina. E assim salvareis a sua fé [8].

Desde muito pequenos, os filhos testemunham o que acontece em casa. E percebem logo se os pais se comportam de acordo com o que ensinam, se se sacrificam com alegria pelos outros, se encaram com paciência e compreensão os defeitos, se sabem desculpar e perdoar e, quando é necessário, corrigir de modo afável mas claro. Ou seja, explicava o nosso Fundador, tudo o que acontece em casa influi, para bem ou para mal, nas vossas crianças. Procurai dar-lhes bom exemplo, procurai não esconder a vossa vida de oração, procurai ser limpos no vosso comportamento. E então aprenderão, e serão a coroa da vossa maturidade e da vossa velhice. Sois para eles como um livro aberto. Por isso deveis ter vida interior, lutar por ser bons cristãos. Se não, é inútil o trabalho que pretendeis fazer com os vossos filhos ou com os filhos dos vossos amigos [9].

Para dar vigor a esta primeira e maior responsabilidade, os pais e os outros educadores devem esforçar-se pessoalmente por aprofundar os conteúdos da fé, através do estudo e da consulta a quem está bem preparado, de forma que a luz da doutrina ilumine o seu entendimento e inflame o seu coração. Tudo isto se vai refletir na sua atuação quotidiana, e então poderão afirmar o que o Espírito Santo põe na boca dos pais quando os filhos, pelo exemplo e conselhos dos seus progenitores, procuram os caminhos de Deus: meu filho, se o teu coração for sábio, o meu também se alegrará, e hei-de rejubilar no meu íntimo quando os teus lábios disserem coisas retas [10].

Comentando estas palavras, o Papa Francisco acrescenta: Não se poderia expressar melhor o orgulho e a emoção de um pai que reconhece que transmitiu ao seu filho aquilo que realmente conta na vida, ou seja, um coração sábio (…). Um pai sabe bem quanto custa transmitir esta herança: quanta proximidade, quanta meiguice e quanta firmeza. No entanto, que consolação e recompensa se recebe quando os filhos honram esta herança! É uma alegria que compensa todos os esforços, que supera qualquer incompreensão e que cura todas as feridas [11].

Apesar destes cuidados, não é raro, sobretudo nalguns países, que a entrada na adolescência ou na juventude vá acompanhada por uma aparente perda da fé. Mais que de abandono, costuma tratar-se de tibieza ou desleixo na prática religiosa, que passam a considerar como uma imposição exterior, que contrasta com o ambiente da escola, da universidade, dos amigos ou amigas. A primeira reação dos pais ou amigos cristãos é sempre rezar mais por essas pessoas, tratá-las com afeto, procurar compreender. Como és uma mãe cristã, comentava S. Josemaria a uma mãe atribulada, descobriste a primeira forma e a mais eficaz: a oração. Invoca a Santíssima Virgem, que entende muito bem as mães, porque ela é Mãe de Deus, tua Mãe e dos teus filhos, e minha Mãe.

Depois, procura encontrar bons amigos para os teus filhos (…).Muitas vezes, as mães não se devem impor porque eles se podem queixar de que não lhes dais liberdade, mas através desses amigos, irão voltando, a pouco e pouco (…). E, protegidos pela tua oração, outras pessoas farão bem aos teus filhos, para que voltem à Igreja, com amor [12].

Além de rezar e pedir conselho, de procurar pôr os vossos filhos e filhas em contacto com pessoas da mesma idade que os possam ajudar, S. Josemaria aconselhava ainda a conversar pacifica e serenamente com eles, mais ainda à medida que vão crescendo, para que sejam conscientes dos seus deveres de filhos de Deus. Sem vos irritardes, falai serenamente, sinceramente, de coração a coração. Não todos juntos, mas um a um. A mãe que fale com as raparigas, embora às vezes seja melhor ao contrário. Vós conheceis bem a psicologia deles: é preciso tratá-los de modo desigual, para atuar segundo a justiça. Falai, sede amigos deles. Hão-de compreender-vos muito bem porque no seu coração está – ainda latente, viva – a vossa mesma fé. Talvez tenham, por cima de tudo, um montão dessa porcaria que lhes lançaram em cima. Que se confessem e vereis como ficam bem [13].

Hoje de manhã vou celebrar a Santa Missa numa igreja paroquial dedicada a S. Josemaria, em Burgos. Nesta cidade recomeçou o nosso Padre o trabalho apostólico da Obra, ao sair de Madrid durante a guerra civil espanhola. Rezemos diariamente pelos frutos espirituais em todo o mundo, pelos preparativos da expansão a novas terras e por todas as atividades com a juventude, que se realizam em grande número de países, ao serviço da Igreja e das almas. Nesta oração por eles, incluí também as suas famílias.

E dizei ao queridíssimo D. Álvaro que nos ajude a ser muito fiéis, cada dia mais.

Com todo o carinho, abençoa-vos

O vosso Padre

+ Javier

Burgos, 1 de julho de 2015

© Prælatura Sanctæ Crucis et Operis Dei


[1]. Papa Francisco, Discurso na Audiência geral, 25-III-2015.

[2]. Missal Romano, Memória de Nossa Senhora do Carmo, Oração Coleta.

[3]. S. João Paulo II, Exort. Apost. Catechesi tradendae, 16-X-1979, n. 68.

[4]. Is 59, 1.

[5]. S. Josemaria, Caminho, n. 586.

[6]. S. João Paulo II, Exort. Apost. Familiaris consortio, 22-XI-1981, n. 39.

[7]. S. Josemaria, Notas de uma reunião familiar, 18-X-1972.

[8]. Ibid.

[9]. S. Josemaria, Notas de uma reunião familiar, 12-XI-1972.

[10]. Pr 23, 15-16.

[11]. Papa Francisco, Discurso na Audiência geral, 4-II-2015.

[12]. S. Josemaria, Notas de uma reunião familiar, 22-X-1972.

[13]. S. Josemaria, Notas de uma reunião familiar, 28-XI-1972.