Para entender a Madre Teresa

Artigo de D. Javier Echevarría em “La Vanguardia”, por ocasião da canonização da Madre Teresa de Calcutá.

Madre Teresa de Calcutá.

La Vanguardia Para entender a la Madre Teresa (Descarga en formato PDF)

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“Recordo vivamente a sua figura pequena, dobrada por una existência vivida ao serviço dos mais pobres entre os pobres, mas sempre cheia de uma inesgotável energia interior. A energia do amor a Cristo”. Eram umas palavras emocionadas que João Paulo II pronunciou, pouco tempo depois da madre Teresa de Calcutá falecer. Conhecia-a bem.

A todos nos chegou o impacto daquela figura pequena, curvada com os anos, mas com um ânimo surpreendente e uma impressionante missão de servir os mais desamparados. Ela definia-se assim: “De sangue, sou albanesa. De cidadania, indiana. No referente à fé, sou freira católica. Pela minha vocação, pertenço ao mundo. No que se refere ao meu coração, pertenço totalmente ao Coração de Jesus”.

Quando começou, não podia suspeitar que teria fama mundial. Nunca o pretendeu. Mas na sua pessoa, tornava-se muito visível um aspeto essencial da mensagem cristã: a preocupação pelos mais abandonados. E assim transformou muitas pessoas. Também, no final, a alguns críticos, que pensavam que servir os pobres por amor de Cristo era deformar esse serviço, com a intenção de evangelizar.

São João Paulo II, junto da nova Santa e do Beato Álvaro del Portillo, no dia 1 de junho de 1985.

Certamente pode-se trabalhar pelos outros, e muitos levam-no a cabo, sem um motivo religioso, por uma convicção filantrópica ou por sentimentos de compaixão. São intenções e realidades muito boas e profundamente humanas. Mas a relação entre o amor a Deus e o amor aos outros revela algo mais: uma chave da mensagem cristã que, ao canonizar a madre Teresa, a Igreja quer recordar à humanidade.

Diante do convite de Jesus Cristo – dar a vida pelos outros, amando a todos, inclusive os inimigos – manifestam-se as limitações humanas: a falta de ânimo, força e capacidade, mas também as resistências da preguiça e do egoísmo. Daí procede uma convicção íntima: parece-me muito bonito, mas não sou capaz.

A fé cristã e a experiência própria ensinam que, se realmente se quer enfrentar essa entrega e se pede a Deus, a Sua ajuda não falta. Por isso na intimidade dos santos, produz-se sempre essa curiosa combinação de profunda humildade, ao sentir a própria incapacidade e a força do amor de Deus.

Duas missionárias da caridade conversam com el Prelado durante a sua viagem pastoral à Rússia em 2014.

Os santos cristãos não são super-homens ou supermulheres que conseguem tudo com uma personalidade arrebatadora, uma força de vontade implacável, uma energia transbordante ou um impulso irresistível. Também não aparecem, geralmente, como um prodígio da planificação económica ou técnica. A explicação da sua força e a valentia que possuem para os cristãos não se fica em que sejam exceções da natureza, mas em que deixaram agir em si mesmos o amor de Deus.

Na mesma ocasião que recordava no início deste artigo, João Paulo II indicava as chaves desta mulher pequena e, ao mesmo tempo, gigante: A sua missão começava todos os dias, antes do amanhecer, diante da Eucaristia. No silêncio da contemplação, a madre Teresa de Calcutá sentia ressoar o grito de Jesus na cruz: «Tenho sede». Este grito, recolhido na profundidade do seu coração, impulsionava-a a ir pelas ruas de Calcutá e de todos os subúrbios do mundo, em busca de Jesus no pobre, no abandonado e no moribundo” e desejo acrescentar: nos órfãos ou não desejados pelos pais.

Javier Echevarría

Prelado do Opus Dei