“O Natal é uma época muito indicada para receber o batismo”

O Natal tem este ano uma dimensão especial para Remco Bangma, um estudante de arquitetura holandês. Na noite de 25 de dezembro batizou-se na Residência de Leidenhoven em Amesterdão juntamente com outro estudante.

Porque é que te batizas ?

É difícil dizê-lo em duas palavras. Mas a razão fundamental é que creio.

E como recebeste a fé?

Sempre tive a sensação de que existia alguma coisa, e também a ideia de que tinha que encher alguma vez esse vazio. Não me parecia, porém, muito urgente. O que me levou a querer aprofundar na fé foi o contacto com uma amiga minha muçulmana. Um dia decidiu levar a cabeça coberta com um véu. Eu sabia que era crente, mas a sua decisão fez-me ver que era consequente com a sua fé. Isto deu-me que pensar.

Pus-me a ler artigos sobre a fé através da Internet procurando informação geral sobre as distintas religiões. E comecei a ler a Bíblia, o Novo Testamento. A vida de Jesus impressionou-me muito. Tudo o que se diz aí parecia-me que caía muito bem. É claro que não se tratava de uma história que alguém tinha inventado. Ali havia algo mais. Por exemplo era impressionante comprovar como todas as profecias do Antigo Testamento se cumpriam no Novo.

Li como Jesus falava sobre o batismo e então comecei a pensar se isso não seria também para mim. Não me parecia lógico tomar da pregação de Jesus só as coisas que m calhavam bem, porque assim deformava-se a sua mensagem. Tive muitas dúvidas, mas rezando frequentemente, da dúvida passei à certeza. Finalmente cheguei à conclusão de que me devia batizar.

Assim que me surgiu outra questão: em que igreja? Olhei para todas as igrejas. Há anos ia frequentemente com a minha mãe à Igreja Católica. Por isso era a que mais conhecia. Também um amigo que estuda história me ajudou a analisar a história das diferentes correntes do cristianismo. Pareceu-me que a Igreja Católica era a que melhor representava o cristianismo.

Porque te batizaste em Leidenhoven? Como foste a parar à Residência?

Quando decidi que me batizaria na Igreja Católica me perguntei como tinha que fazer. Pus uma notícia no fórum da web www.rknieuws.net (noticias católicas) e a partir dali me aconselharam a tomar contacto com a web da capelania católica universitária de Amesterdão.

Don Wim Veth, o capelão universitário, que vive em Leidenhoven, leu minha mensagem e enviou-me um e-mail com a sugestão de contactar com ele por telefone. Assim o fiz e combinámos para o dia seguinte. Ao primeiro encontro seguiu-se outro e acabei indo sistematicamente às aulas de catecismo que se davam em Leidenhoven. Assim conheci a Residência e pareceu-me muito agradável.

A época tradicional de receber o batismo é a Páscoa, mas isso pareceu-me demasiado tarde e um domingo qualquer também não me parecia suficiente. Pedro, um residente de Leidenhoven, ia batizar-se no Natal. Pareceu-me uma época maravilhosa.

Atualmente nota-se na sociedade um renovado interesse pela religião, mas a gente procura-a fora da igreja. Parece como se houvesse um “supermercado da religião” em que cada um escolhe o que mais gosta Porque procuraste a tua fé na Igreja?

Não me parecia bem considerar só algumas coisas da mensagem de Jesus. Com isso negaria o que Ele é noutras coisas. Isso não seria coerente, porque a sua mensagem forma um todo; o que Jesus disse constitui um conjunto e na doutrina da Igreja tudo está relacionado entre si.

Como reagiram as pessoas do teu ambiente?

Ao princípio só os meus pais sabiam o que eu estava procurando. O meu pai era originariamente protestante, a minha mãe católica. Ambos respeitaram a minha opção e a minha decisão de me batizar. O meu irmão também. Mas a minha irmã mais velha às vezes tinha as suas dúvidas. Pelo contrário a, a minha irmã mais nova achou ‘cool’. No princípio perguntou se ela não poderia batizar-se também.

Os meus amigos reagem por vezes com certa reserva. Um deles é ateu convicto, e não entende o que procuro na fé. Por vezes fez algum comentário irónico. Ao princípio incomodava-me e queria explicar. Depois decidi não ligar às suas piadas. Contrariamente tive boas reacções de outros amigos. Com a minha amiga muçulmana posso falar com mais facilidade, embora ela se pergunte porque não me fiz muçulmano. Mas, de qualquer forma, vê como algo positivo que me ocupe de Deus.

Que influência pensas que pode ter o teu batismo na tua vida diária?

Já tem influência. Tenho consciência durante o dia de que Deus está presente e esforço-me por fazer tudo o melhor possível: o meu trabalho, as minhas aulas, etc. Depois do batismo sou talvez ainda mais consciente. E naturalmente vou à Missa aos domingos e quando for possível durante a semana.

Também costumo entrar às vezes numa igreja. Sabe muito bem sair um pouco do ruído e dedicar algum tempo à oração. Sem dúvida, parece-me normal que a fé tenha influência na vida diária, se não, seria algo postiço.

Como vês o teu futuro como batizado?

Gostaria de crescer mais na fé, ainda que nunca se atinja o topo. Gostaria também de me dedicar ativamente a fazer alguma coisa pela minha fé, mas ainda não sei o quê exatamente. De momento, o pároco de Schagen, onde vive a minha família, pediu-me, para escrever um artigo no seu boletim paroquial sobre o meu batismo. Vou fazê-lo com muito gosto. Parece-me também importante difundir a fé, não tanto indo de porta em porta, mas falando dela com os meus amigos.

Queres dizer mais alguma coisa?

Um tema que me interessa muitíssimo é a relação entre fé e ciência. Tenho a impressão de que muita gente as considera realidades contraditórias, o que, se fosse verdade, suporia uma grande dificuldade. Eu penso que não existe tal contradição. Há pouco tempo estive em Zonnewende – um centro de conferências organizado por membros do Opus Dei –, num fim-de-semana de estudo em que se focava esta questão. Ali confirmei a ideia de que os campos que a ciência desenvolve não excluem de nenhum modo a Deus. A ciência confirma as afirmações da Igreja em todos aqueles pontos que se podem comprovar cientificamente. Impressionou-me muito a frase de João Paulo II: “A fé e a ciência são como duas asas com as quais pode elevar-se a inteligência humana para contemplar a verdade”.