"D. Óscar Romero foi um homem de Deus"

Mons. Joaquín Alonso recorda o encontro de D. Óscar Romero com S. Josemaría, em 1974, ocasião em que pode conviver com o futuro beato

Entrevista realizada por Rodrigo Ayude (Roma, 18 de Maio de 2015)

Mons. Joaquín Alonso (Sevilha, 1929), licenciado em Direito e doutor em Direito Canónico, viveu em Roma com S. Josemaría e trabalha há vários anos ao lado do prelado do Opus Dei. Vive há 62 anos na capital italiana, onde trabalha também como Consultor Teólogo da Congregação para as Causas dos Santos.

- Mons. Alonso, como conheceu o futuro beato Óscar Romero?

- Conheci-o em Roma, em 1974. A 30 de Outubro daquele ano veio a Roma – não era a primeira vez – e S. Josemaría, que iria recebê-lo uns dias depois, no dia 8 de Novembro, pediu-me que o acompanhasse. D. Óscar Romero tinha sido nomeado bispo de Santiago de María, em El Salvador, uns dias antes de empreender a viagem.

D. Óscar comentou-me que essa viagem à Cidade Eterna era providencial, pois o ajudava a sair do ambiente habitual, a distanciar-se um pouco e a ver de outras perspectivas, dizia, o pequeno mundo que lhe pesava. Sentia a carga da responsabilidade que supunha a sua nova sede episcopal e necessitava de sentir-se escutado e animado.

Fotografía en la que Mons. Romero escribió: Bendigo con cariño de pastor y amigo al "Opus Dei" en nuestra archidiócesis. Afectísimo: + O. Romero, arzobispo. 25-III-1979
- Guarda alguma recordação desses dias?

- Para mim, aquela visita representou uma oportunidade de falar com D. Óscar durante longo tempo e bastante a fundo. Foram conversas fraternas e muito sacerdotais. Entre outras coisas, o Pe. Óscar Arnulfo Romero contou-me que, desde o princípio dos anos 60, tinha direcção espiritual com um sacerdote do Opus Dei, o Pe. Juan Aznar, que faleceu em Março de 2014.

Algum tempo depois, conheci alguns detalhes desse trato com o Pe. Juan Aznar. Por exemplo, numa carta de 1970, tinha-lhe confiado: “Ninguém mais do que o senhor compreende a minha alma"; e, no Natal de 1973, aos enviar os seus votos, dizia: “Não esqueço nunca as suas sábias orientações". O Beato Óscar Romero era um sacerdote agradecido e eu emocionei-me quando soube que tinha morrido precisamente enquanto celebrava a Eucaristia, a acção de graças por excelência.

- Como foi o encontro de D. Óscar com S. Josemaría?

- S. Josemaría recebeu-o a 8 de Novembro. A conversa durou quase uma hora e, no final, D. Óscar contou-me que aquele encontro o tinha deixado profundamente impressionado. Disse-me que se tinha sentido confortado na sua fé por S. Josemaría e que o fundador do Opus Dei o tinha abraçado, fazendo-o sentir-se querido e acompanhado. D. Óscar chamou “homem de Deus" a S. Josemaría e aproveitou o encontro para convidá-lo a visitar a América Central, o que se tornou realidade em 1975.

O Pe. Óscar pôde também cumprimentar, durante aquela viagem, o Beato Paulo VI e teve a alegria de ouvir umas palavras de alento da sua parte. Posteriormente, disse-me que aquela viagem lhe recordava os seus primeiros anos de sacerdócio e que a considerava um presente de Deus.

- Esse trato continuou nos anos seguintes?

- Recordo que no dia 26 de Junho de 1978 – terceiro aniversário da ida para o Céu de S. Josemaría – veio celebrar a Santa Missa na cripta de Santa Maria da Paz, onde então repousavam os restos mortais do fundador. Eu ajudei-o, juntamente com Mons. Francisco Vives. Pronunciou uma breve homilia cheia de carinho e agradecimento a S. Josemaría, fazendo notar que, desde o primeiro momento em que se tinham conhecido, se sentiu atendido como um irmão. Palavras que deixou escritas também numa carta.

Isto aconteceu, como disse, em 1978, um ano depois da nomeação de D. Óscar Romero como arcebispo de San Salvador. Na altura, como afirmou publicamente, era outro sacerdote do Opus Dei, Mons. Fernando Sáenz Lacalle, quem o acompanhava espiritualmente.

- O que pensou ao saber da sua morte?

- A trágica notícia causou-me uma grande emoção e, ao mesmo tempo, surgiu-me o desejo de acompanhá-lo com a oração e de recorrer à sua intercessão para pedir-lhe pela Igreja na América Latina. Foi também um motivo de agradecimento ao Senhor, por me ter dado a oportunidade de conhecer pessoalmente este homem de Deus.

Rodrigo Ayude