Homilia do Prelado do Opus Dei (Ordenação presbiteral abril 2016)

Homilia pronunciada por D. Javier Echevarría na ordenação de 27 presbíteros da Prelatura do Opus Dei, que teve lugar na Basílica de Santo Eugénio (Roma), no dia 23 de abril de 2016.

Queridíssimos ordenandos. Queridos irmãos e irmãs.

1. No tempo pascal, a liturgia recorda-nos frequentemente palavras da Última Ceia de Jesus com os apóstolos, em que o Senhor instituiu a Eucaristia e o sacramento da Ordem. Precisamente, as palavras do Evangelho de hoje provêm de São João: Dou-vos um mandamento novo: que vos ameis uns aos outros (...). Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos (Jo 13, 34-35). A caridade é a essência da santidade cristã. Este mandamento é dirigido a todos e o Papa Francisco recorda-no-lo com frequência, especialmente neste ano jubilar, convidando-nos a praticar as obras de misericórdia.

A vós, queridíssimo filhos, se dirigem de modo particular estas palavras do Mestre, já que estáveis idealmente presentes naquela tarde no Cenáculo de Jerusalém, na pessoa dos discípulos. S. Josemaría, nosso amadíssimo Padre, ensinou-no-lo repetidamente: sereis sacerdotes para servir todas as almas e, claro, os vossos irmãos e as vossas irmãs, com um serviço constante que encontra o seu exemplo supremo em Cristo, o Bom Pastor que cuida do seu rebanho, o alimenta e o defende, mesmo à custa da vida.

Todos nós, enquanto batizados, temos de seguir o seu exemplo; para nós, sacerdotes, não é só um dever de fidelidade a Jesus, mas é também uma condição essencial para o fruto do nosso ministério. Recorda-no-lo a primeira leitura: quando Paulo e Barnabé regressam da sua primeira viagem apostólica, confirmando os discípulos das cidades evangelizadas, afirmam convencidos: é preciso que entremos no Reino de Deus através de muitas tribulações (Act 14, 22).

Recordo o vigor com que São João Paulo II comentou esta passagem na Missa de beatificação do fundador do Opus Dei: «Se a via para o reino de Deus passa por muitas tribulações, então, no final do caminho encontrar-se-á também a participação na glória: a glória que Cristo nos revelou na sua ressurreição»[1]. Abraçar a Cruz significa viver o mandamento novo, porque ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida pelos seus amigos (Jo 15, 13). Recordava-o o Santo Padre dias atrás, dirigindo-se aos novos sacerdotes que estava prestes a ordenar: «Sem cruz nunca encontrareis o verdadeiro Jesus; e uma Cruz sem Jesus não tem sentido»[2].

2. Queridos ordenandos. Mediante a imposição das mãos do Bispo e da oração de ordenação, converter-vos-eis em sacerdotes da Nova Aliança. In persona Christi Capitis, quer dizer, atuando na pessoa de Cristo, Cabeça da Igreja, podereis agir com a sua autoridade na administração dos sacramentos, anunciando a Palavra de Deus em seu nome e servindo todas as almas como fez Nosso Senhor. Tendes em S. Josemaría um modelo do vosso serviço sacerdotal. Meditai as seguintes palavras que escrevia em 1973, por ocasião de um acontecimento semelhante ao de hoje: Pelo Sacramento da Ordem, o sacerdote capacita-se efetivamente para emprestar a Nosso Senhor a voz, as mãos, todo o seu ser; é Jesus Cristo quem, na Santa Missa, com as palavras da Consagração, muda a substância do pão e do vinho no seu Corpo, na sua Alma, no seu Sangue e na sua Divindade[3].

É Jesus quem perdoará, por vosso intermédio, os pecados dos fiéis que se aproximarão, bem preparados, do sacramento da Penitência. É Jesus quem falará, por intermédio das vossas palavras, sobretudo na celebração eucarística, quando explicardes aos fiéis os ensinamentos da Escritura, como fez o próprio Cristo com os discípulos de Emaús. É Jesus quem, em vós e convosco, servirá a todos, cristãos e não cristãos, quando vos pedirem uma palavra de consolo, uma luz que ilumine as trevas em que frequentemente se vêm envolvidos. Com palavras do Evangelho, repito-vos: nisto conhecerão todos que sois meus discípulos, se vos amais uns aos outros (Jo 13, 35).

3. Antes de terminar, quero agradecer aos vossos pais, às vossas famílias, aos vossos amigos, o papel que desempenharam para que florescesse a vossa vocação cristã no Opus Dei, e depois a vocação sacerdotal, sobretudo com a oração e o bom exemplo.

O sacerdócio requer uma configuração mais intensa com Cristo, em cada dia. Rogai, portanto, ao Senhor da messe que envie operários para a sua messe (Mt 9, 38). Na recente exortação apostólica sobre a família, o Papa recorda que «a família é a primeira escola dos valores humanos, na qual se aprende o bom uso da liberdade»; e acrescenta que «a educação dos filhos deve ser marcada por um caminho de transmissão da fé»[4].

Hoje é o aniversário da primeira Comunhão de São Josemaría, em 1912, e da sua Confirmação, alguns anos antes. Com que amor, com quanta gratidão, recordava cada ano estes acontecimentos tão gozosos! Através da sua intercessão, roguemos a Deus para que estes irmãos nossos sejam sempre sacerdotes fiéis, piedosos, doutos, entregues, alegres! Encomendamo-los especialmente a Santa Maria, que extrema a sua solicitude de Mãe com os que se comprometem para toda a vida a servir de perto o seu Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo, Sacerdote Eterno[5].

Convido-vos, como é lógico, a rezar pelo Papa Francisco, pelo Vigário do Papa na diocese de Roma, o Cardeal Vallini, por todos os Bispos e presbíteros do mundo; e acompanhemos todos os seminaristas para que sejam fiéis à sua chamada. Assim seja.


[1] São João Paulo II, Homilia na beatificação do fundador do Opus Dei, 17-V-1992.

[2] Papa Francisco, Homilia na ordenação presbiteral, 17-IV-2016.

[3] S. Josemaría Escrivá, Homilia Sacerdote para a eternidade, 13-IV-1973.

[4] Papa Francisco, Exhort. apost. Amoris laetitia, 19-III-2016, nn. 274 y 287.

[5] S. Josemaría Escrivá, Homilia Sacerdote para a eternidade, 13-IV-1973.