Álvaro del Portillo, discreto amigo de cinco Papas

O Santo Padre convida a imitar a «vida humilde, alegre e silenciosa» do prelado do Opus Dei, que será beatificado no dia 27.

Em 26 anos de pontificado, João Paulo II visitou apenas duas câmaras ardentes: a do médico que o operou quando corria perigo de vidano dia do atentado na praça de São Pedro e a de D. Álvaro del Portillo, no dia 23 de março de 1994. Em vez de rezar um responso pela sua alma, talvez porque não o considerou necessário, São João Paulo II rezou a Salve Rainha. À saída da sede central do Opus Dei, quando D. Javier Echevarría lhe agradeceu a visita, o Papa respondeu simplesmente: «Tinha que vir». D. Álvaro era seu amigo.

Relativamente ao Vaticano, o curioso deste madrileno, nascido em 1914 a dois passos da Porta de Alcalá, é que ganhou o coração de cinco Papas absolutamente diferentes. O segredo pode estar num telegrama enviado no passado mês de março ao prelado do Opus Dei.O Papa Francisco convidava-o a «divulgar o precioso exemplo da sua vida» e recomendava imitar a sua «vida humilde, alegre, escondida e silenciosa mas, ao mesmo tempo, decidida no testemunho do Evangelho».

Em junho de 1943, quando o mundo estava em guerra, D. Álvaro del Portillo voou para Roma para falar do Opus Dei a Pio XII em audiência privada.Ao vê-lo chegar com o uniforme de Engenheiro Civil, o pelotão da Guarda Suíça do Portão de Bronze formou para que lhes passasse revista, coisa que fez com grande naturalidade.

Pio XII manifestou-se impressionado pelo visitante espanhol. Três anos mais tarde, quando regressou a Roma vestido de batina, o Papa comentou ao recebê-lo: «Recordo-o perfeitamente, como se o estivesse a ver de uniforme, com condecorações e tudo». Noutra audiência, desta vez acompanhado pela mãe e pelos irmãos, Pio XII, que era habitualmente sério, saudou-o com um sorriso: «Olá engenheiro!». A seguir fez amizade com o «número dois» da Secretaria de Estado, Giovanni Battista Montini, de quem escreveu em 1946 numa carta a São Josemaría Escrivá de Balaguer: «Realmente, dá a impressão de ser um santo». A sua intuição era correta:Paulo VI será elevado aos altares no próximo dia19 de outubro.

«Trabalho tenaz»

João XXIII nomeou-o consultor da congregação que preparava o Concilio Vaticano II e presidente da comissão do laicado. Depois passaria a ser «número dois» da comissão do clero e povo cristão que era presidida pelo idoso Cardeal Pietro Ciriaci. O decreto «Presbyterorum Ordinis» foi aprovado por 2.390 votos de 2.394, e o Cardeal Ciriaci agradeceu-lhe por carta «o seu trabalho sério, tenaz e amável (…) respeitando sempre a liberdade de opinião dos outros (…). Desejo que lhe chegue, com um caloroso aplauso, o meu mais sincero agradecimento».

D. Álvaro, como lhe chamavam os seus amigos, foi um sólido pilar do trabalho do Concilio, mas ao terminar a Assembleia, recusou importantes cargos para poder ajudar São Josemaría Escrivá a dirigir a expansão do Opus Dei pelo mundo. Aceitou apenas continuar como consultor da Congregação da Doutrina da Fé, da dos Religiosos, da do Clero e da comissão de reforma do Código de Direito Canónico… Preferia ajudar da segunda fila, como faria também, já como Bispo prelado do Opus Dei, durante os Sínodos. Mesmo assim, muitos padres sinodais iam confessar-se a ele, não apenas por amizade, mas porque intuíam que era um santo.

No passado mês de março, quando o cardeal Julián Herranz foi visitar Bento XVI na sua residência,o Papa emérito sabia da beatificação de D. Álvaroe comentou feliz: «Que bonito! Tive-o como colaborador durante anos como consultor na Congregação para a Doutrina da Fé: Que bom exemplo para todos nós!».

João Paulo II recebia-o com frequência e aconselhou a sua ajuda espiritual a mais de uma pessoa: «Vai falar com Álvaro del Portillo». A sua amizade era visível no dia da beatificação do fundador do Opus Dei numa praça de São Pedro repleta de fiéis. Essa praça conserva uma formosa recordação sua. D. Álvaro ofereceu o mosaico de Santa Maria «Mater Ecclesiae», instalado como ex-voto de João Paulo II por ter sobrevivido às duas balas de Alí Agca em 1981.

Juan Vicente Boo

ABC.es